quarta-feira, 22 de maio de 2013

Patagônia


É complicado estabelecer um limite de onde começa a Patagônia. A maioria das fontes consultadas diz que começa na região dos lagos e essa área é conhecida como patagônia norte. Mas a vegetação e o clima da patagônia norte e sul são tão diferentes que é difícil enxergar Bariloche como uma cidade patagônica.

Skyline Fitz Roy e sua turma

A patagônia encanta. Os animais, os lindos campos de gelo, a vegetação. É uma relíquia de um tempo anterior. Tem sinais claros do período da ultima glaciação em forma dos hipnóticos glaciares.  Mas é um ambiente desolador. Tanto a Ruta 40 em direção ao sul quanto a 3 ao norte são milhares – sim, falamos de milhares- de quilômetros com a mesma paisagem: grandiosa e amarela. Chega a ser entediante realizar esses longos trechos de carro. Mas fazer dessa forma te coloca bem no olho do furacão: sim, a patagônia é um território de espaços gigantescos!
E tem ainda o vento. Que começa a soprar manso em Bariloche para vir com toda sua força em lugares como Torres del Paine. Estamos falando de vento tão forte que soltando o corpo contra ele você é impedido de cair no chão. O frio também é bastante mas a sensação com o vento é de muito maior.  É importante e imprescindível estar bem agasalhado e com todas as partes do corpo cobertas. Inclusive rosto. Tente dar um jeito!
A patagônia está em território chileno e argentino, a divisão é política e as atrações se confundem em linhas que delimitam fronteira. Por isso, resolvemos colocar tudo no mesmo post. Também escrevemos alguns posts mais antigos sobre a região, de uma outra viagem. Estão aqui nesses links (El Chaltén e Torres del Paine). Aqui vamos falar sobre a Cueva de las Manos, El Chaltén, El Calafate e Glaciar Perito Moreno na Argentina e Torres del Paine e Purto Natales do lado chileno.
O começo da patagônia nessa viagem se deu na Cueva de las Manos Pintadas, próxima a cidade de Perito Moreno. O local é conhecido pelos negativos de centenas de mãos de homens que viveram na região há 13.000 anos. Uma das técnicas que os antepassados dos Tehuelche usavam era assoprar pigmentos sobre a mão esquerda utilizando canudinhos de ossos. Como esses povos eram semi-nômades, os estudiosos acreditam que as mãos impressas eram uma forma de marcar o seu espaço. Aparentemente, esses povos primitivos seguiam os guanacos que desciam as montanhas para passar o inverno em um clima mais ameno.
Negativos de mãos

Além das mãos, existem alguns desenhos de represntações humanas, cenas de caça, guanacos (inclusive fêmeas grávidas), linhas em zigue zague e formas geométricas. Mas essas são minorias, a maior quantidade é de mãos mesmo. Como aprendemos na Serra da Capivara, é difícil entender o motivo dos homens primitivos deixaram esse tipo de registro e o que eles representam. Mas é interessante perceber que o homem tem a necessidade de se expressar, na Patagônia ou no interior do Piauí. O homem primitivo já demonstrava intencionalidade ao deixar sua marca.
O acesso às pinturas é terrível. De Bajo Caracoles são uns 40 km de rípio ruim. Demoramos bastante para fazer esse trecho.
De lá, seguimos para El Chaltén. A cidade cresceu nos últimos 7 anos. Mas as montanhas, ah meu amigo, essas continuam as mesmas. Temos uma certa sinergia com Chaltén. As duas vezes que lá estivemos estava um sol de dar gosto. E lindas fotos!
Essas montanhas

El Chaltén é a cidade do trekking. O Parque Nacional Los Glaciares tem entrada gratuita aqui e com isso as trilhas são bem populares. Existem trilhas de vários níveis de dificuldade. Dessa vez, nós apenas fomos a Laguna Capri admirar o Fitz Roy em todo seu esplendor. Também caminhamos até um mirante num desvio do caminho. A caminhada é leve e revigorante. O caminho é maravilhoso e os bosques de lenga deixam o lugar mais especial ainda. Começamos a caminhar por volta das 11:30 e com muita calma e descanso, voltamos as 16 horas. Outra coisa ótima dessas trilhas é que praticamente todas têm inicio e fim na cidade. Isso é muito prático!
Mirantes na trilha

Uma dica: antes de se enfiar nas trilhas, passe na Informação turística e pegue um mapa do parque com descritivo de trilhas, nível de dificuldade e estimada duração. Leve um lanchinho energético para aguentar o tranco e aproveite!
O Parque Los Glaciares inicia sua delimitação aqui e é possível caminhar até um glaciar o Piedras Blancas e visitar outro, o Viedma, ali perto. O skyline do Fitz Roy é de tirar o fôlego no final da tarde!

De Chaltén seguimos para El Calafate, uma cidade com muito mais serviços e charme. Não perca de jeito nenhum o cordeiro patagônico, é delicioso e super típico! Além de comermos em restaurantes, nós fizemos uma perna de cordeiro na parrilla que ficou divina! É muito fácil encontrar cordeiro para comprar por aqui. Bom, a quantidade de ovelhas é muito maior que a de humanos na região. Tudo porque a patagônia era um lugar onde se concentravam as fazendas de ovelha principalmente para a lã. Após a vinda dos exploradores, os colonos se fixaram aqui para trabalhar com ovelhas, os ovejeros. Vimos vários ovejeros nos seus cavalos, com seus fiéis cachorros tocando as ovelhinhas de um lado para o outro.
Ovejeros

Enfim, Calafate é simpática, agradável para se caminhar e fazer passeios ao ar livre. Contando que o clima e o vento ajudem, é claro! Mas o objetivo maior de quem vem aqui é visitar o glaciar Perito Moreno. O impacto ao avistá-lo é o mesmo, pode ser a primeira ou a décima vez, você vê aquela muralha de gelo e diz: UAU!

Perito Moreno

O Perito Moreno é um glaciar que continua crescendo, diferente dos outros glaciares que estão retraindo. O crescimento dele é avistável: durante o tempo que você estiver nas passarelas, com certeza irá presenciar enormes blocos de gelo que se desprendem e caem na água, fazendo um barulhão e criando muitas ondas.
Blocos de gêlo caindo

Além de passear nas passarelas, você pode fazer uma navegação pelo lago, chegando mais perto do glaciar. Chama-se Safári Náutico e vale a pena por ter uma ideia melhor da grandiosidade dele.
A altura da parede do glaciar é de 40 metros

Também em El Calafate visitamos o Centro de Interpretação Histórica que conta aproximadamente 100 milhões de anos de história natural e humana da Patagônia Austral. Engloba dinossauros, megafauna, arte rupestre, povos originários, greves, glaciares, ovelhas e sangue. Afinal de contas os nativos que viviam por aqui quase foram exterminados pelos colonizadores. Os motivos? Germes e armas. Lembra um ótimo livro, recomendamos para todos os curiosos da história do homem (Guns, germs and steel- Jared Diomand)
Após esse período em El Calafate, seguimos para o Parque Nacional Torres del Paine, do lado chileno. Criado em 1959, o parque é o cartão postal do Chile! Inúmeras trilhas percorrem diferentes paisagens de pampas, bosques magalhânicos, lagoas e glaciares rodeados de rochas gigantescas de granito que caracterizam a silhueta dos Cuernos e Torres. Também não foi nossa primeira vez nesse parque e o maciço Paine segue imponente.
Cuernos del Paine

Torres del Paine não tem nada a ver com a cordilheira dos Andes, é uma cadeia de montanhas independente. Ao avistá-lo de longe tem-se essa impressão: mas que coisa esquisita!
Skyline envergonhado

Olhando de perto não tem como não se encantar com as montanhas enigmáticas, pedaços de granito. A cada curva da estrada, a silhueta das montanhas se modifica um pouco. Se você tem mais tempo e disposição, não deixe de fazer o circuito W, são as trilhas que entram no meio dessas montanhas. A sensação do Mirante do Francês, estar rodeado de montanhas, é fantástica!
Torres de Paine

Dessa vez, fizemos um passeio básico de carro, parando em mirantes e tirando muitas fotos. Diferente do Fitz Roy, os Cuenos del Paine e sua turma são temperamentais e se escondem da gente nas nuvens. Pegamos um tempo fechado que as vezes se abria, revelando nesgas de lindas paisagens.
Rio Paine

Mesmo com chuva e vento, arriscamos uma caminhada até a praia Grey para avistar o glaciar e admirar os lindos e enormes blocos de gelo azuis que se soltam do glaciar e morrem na praia. Estava muito frio e tivemos que voltar. A caminhada estava desconfortável.
Glaciar Grey

Outra pequena caminhada foi até o Salto Grande, uma cachoeira cor de esmeralda. Aqui o vento é implacável, ele chega canalizado das montanhas e vem com força total. A cachoeira é pequena mas tem uma cor e um volume d’água impressionantes!
Com o carro passamos pelos lagos Sarmiento, Nordernskjold, Pehoé, pelo Rio Paine e ainda, o Lago Toro onde se encontra a ótima Sede Administrativa com muitas informações turísticas relevantes, inclusive uma maquete do parque super didática.
Resolvemos dar uma esticada até Puerto Natales, uma cidade que fica embrenhada no meio de fiordes. Cheia de restaurantes e com uma orla que acompanha o canal marítimo Señoret, a cidade é uma boa base para quem visita o parque. Conta com bons hotéis e restaurantes. E até tem uma réplica dos dedos uruguaios na avenida Costanera. Que na verdade, são obra do artista chileno Mario Irarrázabal.
Fiorde em Puerto Natales

Voltando para El Calafate, passamos na Cueva de Milodón, um sítio arqueológico de valor científico pois nesse lugar encontraram vestígios do homem primitivo patagônico em forma de fogueiras e instrumentos. Do milodón mesmo, apenas encontraram sua pele, mostrando que o homem primitivo conviveu com a megafauna mas foi um dos determinantes para sua extinção (já que eles comiam esses animais). Enfim, a cueva é ok, mas tirar a foto com o milodón, uma espécie de preguiça gigante é  um clássico!
Milodon em tamanho real

Esse trecho foi muito especial para nós. Relembramos nossa viagem a Patagônia, um lugar muito especial que tinha dado muita vontade de voltar. Entretanto, muito mais que isso, fizemos acompanhados com os pais do Mauro, que vieram do Brasil para nos visitar na estrada. Estávamos com muita saudade e passamos uma semana juntos. Enfiamos eles na maior ventania mas passamos um ótimo tempo juntos e todos aproveitamos muito!
Depois de nos despedirmos no aeroporto de El Calafate, seguimos sul na ruta 40. A viagem ainda não terminou. Temos que chegar a Ushuaia!
Encontro no sul da América!


Fauna Patagônica
Nas estradas e nos parques, misturados com os animais de cativeiro ou absolutamente soltos na natureza, cruzamos com os principais animais selvagens da patagônia:

Guanacos
Os guanacos são mamíferos da família dos camelídeos e sua domesticação pelos incas deu origem as alpacas e lhamas. Eles são o orgulho americano já que são o único animal domesticado das Américas. Os guanacos são simpáticos e curiosos. Vivem em rebanhos grandes, espalhados por toda a patagônia, mas aparecem em maior quantidade do lado chileno. O único predador deles é o puma.


Ñandus

Os ñandus ou choiques são aves que parecem o avestruz e a ema. Eles também andam em grupos e são muito fáceis de observar nas estradas. Os ñandus fizeram parte da dieta do homem primitivo patagônico. Uma prova disso é o negativo de uma pata desse animal na Cueva de las Manos.



Condor

símbolo da América do Sul, vive em montanhas mas também habita a patagônia. É difícil saber se você está vendo um condor ou outra ave. Aqui vão algumas dicas para não confundi-lo com um urubu: ele voa muito alto e geralmente, em círculos; ele tem o pescoço branco e as pontas das asas têm penas abertas. Vimos alguns no chão comendo um animal morto e o tamanho dele é impressionante!

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