sexta-feira, 22 de junho de 2012

Denali National Park

Você já ouviu falar no filme/livro "Na natureza selvagem" sobre o Chris McCandless, um jovem que decidiu viver isoladamente no Alasca e se deu mal? O lugar isolado que ele escolheu para viver é uma área próxima ao Denali, o parque nacional mais ermo e selvagem dos Estados Unidos. Afinal de contas, estamos falando sobre um lugar que fica no meio do Alasca, onde a temperatura no inverno bate os -50 graus celsius fácil.
A vida nessas condições não é fácil não. Os caribus precisam cavocar muita neve encontrar alguma coisa para comer e os ursos, quando não estão hibernando, precisam andar quilômetros para saciar sua fome. A vegetação predominante é a tundra, uns musguinhos que conseguem crescer na fina camada de terra sob o permafrost, o solo sempre congelado das regiões polares.

Valem todos os mirantes...

O cartão postal do parque é o Mt. McKinley, o pico mais alto da América do Norte. Mas além dele, o grande diferencial do Denali é a oportunidade de realizar off trails, trilhas não demarcadas. Gostou de um lugar e quer explorar? É só caminhar!
O parque abre o ano inteiro mas a temporada dura de 15 de maio até meados de setembro. Isso significa campings, centro de visitantes, banheiros e estrada em pleno funcionamento. Nessa época, é fácil avistar o grizzly (urso marrom), existem flores e frutos silvestres espalhados pelo parque, está menos frio e tem menos neve. Mas durante esse período, você não pode circular com carro particular. Você pega shuttles (ônibus) que te levam e param em determinados pontos da estrada para ver paisagens ou vida selvagem. Aparentemente, isso não é legal pois tira a liberdade de parar e ficar o tempo que quiser, onde quiser. E tem mosquitos.
Fechado significa absolutamente fechado!

Mas nossa experiência foi diferente da maioria. Chegamos antes da estação e portanto, encontramos todos os serviços fechados, o que dificulta a vida. A maioria dos ursos estava hibernando, muita neve nas montanhas, frio mas nenhum mosquito. E também nenhum shuttle. Antes da estação, você tem a liberdade de entrar e circular com seu carro, até a milha 31, o que significa menos da metade do percurso que os ônibus fazem (os ônibus seguem até a milha 90). Mas com total liberdade, parando onde quiser, por quanto tempo desejar. Depois disso, você pode continuar caminhando ou de bicicleta, a opção preferida dos poucos aventureiros que escolhem o Denali fora de época.
Avistamos muitos animais da estrada, como caribus, mooses e aves. Precisa ter olho vivo, porque os animais ficam meio camuflados no meio da vegetação. Binóculos ajudam muito.

Moose

Caribus

Nós passamos três dias acampados no campground Riley Creek, o único aberto nesse período. Para usar o banheiro e pegar água, era necessário ir de carro até o Murie Science and Learning Center, que funciona como centro de informações do parque nesse período. Lá, assistimos um ótimo filme sobre o parque e pudemos conhecer mais a fundo sobre os animais que lá vivem.

O centro de visitantes do Denali é excelente

Uma palavra para resumir esse período que passamos into the wild: PAZ! O silêncio nas paradas e caminhadas que fizemos só era quebrado pelo vento nas poucas folhas de pinheiros. Caminhamos dois dias pela estrada fechada e encontramos outros turistas mas a maioria do tempo, estávamos sozinhos, com a natureza. Dava prazer ouvir tanto nada junto! Fizemos amigos nessa nossa estadia por lá e eles costumam visitar o parque com frequência. Mas disseram que jamais vão depois que os ônibus começam a circular; disseram que o parque perde o encanto. Não dá para saber o que passou na cabeça do Chris McCandless quando decidiu viver tão isoladamente nessa parte do mundo. Por que ele escolheu levar pouca comida, por que não quis avisar a família. Mas se ele queria viver em paz, no silêncio, com certeza ele acertou o lugar. 

Dicas:
- próximo ao parque, o Nennana Canyon é uma vila que abre durante a temporada e oferece alguns restaurantes e mercados.
- leu o livro "Na natureza selvagem" e quer tirar uma foto no ônibus cenográfico do filme? Vá até a 49th State Brewing, em Healy. Quer visitar o ônibus verdadeiro onde McCandless viveu sua experiência na natureza? Se informe no Centro de Visitantes. Nós não fomos pois é uma área cheia de tundra, quase impossível de se atravessar mesmo com 4x4, além de não termos vontade mesmo.

Esse é o onibus cinematografico do "Natureza selvagem".

- aparentemente, um urso estava acordado durante nossa estadia no Denali. Pudemos encontrar suas pegadas na estrada, um dia após ele seguir um grupo de 13 pessoas por cinco milhas. As pessoas foram resgatadas por um caminhão de serviço do parque e deixadas em local seguro. Quando falamos em selvagem, é selvagem mesmo! Queríamos ter visto o tal urso, caminhamos por essa estrada mas ainda bem que não estávamos nesse grupo. Eu, hein, ser seguida por um urso que acabou de acordar e faminto após meses de hibernação! Portanto, saiba como proceder caso encontre um urso pelo caminho perguntando aos guardas ou lendo nos impressos.
Umas dicas que podemos adiantar são: não corra, faça barulho (converse alto, cante ou bata palmas), jamais chegue perto de filhotes e caso um grizzly te ataque, finja-se de morto; se for urso preto, lute com ele! E que vença o mais forte!

Pegada do urso que caminhou com os turistas.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Dalton Highway

Quando elaboramos nosso roteiro, a ideia original era chegar até o fim da Pan Americana, que termina na Alaska Highway em Fairbanks. Depois, pesquisando com outros viajantes, decidimos incluir Deadhorse por ser a cidade mais ao norte da América acessível por estrada. Ou seja, para quem está viajando milhares de quilômetros, um destino interessante já que significa o fim da estrada (ou o começo dela). Dessa forma, colocamos Deadhorse como um ponto a ser alcançado no Alasca. 


Mas assim que chegamos ao Alaska, começamos a mudar de opinião primeiro por causa do tempo (tempestades de neve a -30 não parece seguro) e segundo, escutando a opinião dos locais sobre a estrada, a maioria absoluta dizendo que ela não é bonita, não é segura, é longa e cansativa.
Na verdade, a Dalton Highway é uma estrada de serviço, construída para levar trabalhadores e suprimentos até o campo de petróleo localizado em Prudhoe Bay. Até 1994, o acesso público até Deadhorse era proibido. A estrada foi construída em cinco meses, durante a década de 70, pois com a descoberta de milhares de barris de petróleo, quiseram começar a exploração de toda essa riqueza o mais rápido possível e não teve tundra, mosquito ou frio que impedisse a construção da estrada tão rapidamente.
Praticamente paralelo à estrada, corre uma das obras de engenharias mais fanstásticas que vimos até agora: um oleoduto (pipeline) com quase 1.300quilômetros de comprimento, que bombeia todo esse petróleo para o porto em Valdez. 

Os serviços na estrada são limitados: não tem bancos, serviço médico ou sinal de celular.
Nessa época do ano, restaurante apenas em Coldfoot e Deadhorse, bem como combustível. Portanto, é imprescindível carregar combustível extra, comida, água e contar com sorte para que nada aconteça a você nem ao seu veículo. 

Não existe acesso público ao mar ártico. Você pára o carro em Deadhorse e contrata um serviço turístico para ver o mar, lógico que durante a temporada que vai do final de maio até meados de setembro. Fora da época, esquece. A empresa responsável pela extração de petróleo não autoriza. 
A estrada não é a coisa mais linda do mundo mesmo. Mas para nós três pontos foram interessantíssimos: 
- o Círculo Polar Ártico- a gente curte essas marcas, vide nossa alegria ao cruzar a linha do equador. O círculo Polar Ártico fica a 115 milhas (185km) do começo da Dalton e é uma linha imaginária que limita a pequena parte do globo terrestre onde existe o sol da meia noite e também, o dia sem sol. Por sinal, observar o percurso do sol durante o dia é bem interessante, ele nunca atinge o topo do céu e demora umas 3 horas para se por, ficando naquela altura dos olhos que atrapalha para dirigir um tempão. No dia 02/05/12, a data que ficamos passeando pelo ártico, o sol iria se pôr as 11:15 da noite e nasceria por volta das 4:15. Quanto mais próximo ao solstício de verão, menor essa diferença, até zerar, ficar só dia. As plantas agradecem pois com luz intermitente elas conseguem se desenvolver sufic ientemente para depois, enfrentar novo rigoroso inverno. 

- Atigun Pass (milha 224/km 392)- O Continental Divide é um divisor de águas, uma linha imaginária que segue o cume das montanhas e vai do Alaska até o final das cordilheiras dos Andes, no Chile. O Atigun Pass passa por esse divisor de águas onde antingimos o topo da serra, a 1500 m de altitude. A estrada fica sinuosa e mais perigosa, principalmente com gêlo na pista. 

- North Slope (milha 275 a 355/ km 442 ao 571)- se a paisagem já estava surreal enquanto estávamos no Atigun Pass, depois dele podiamos muito bem estar em outro planeta. O pinheiros sumiram sendo subistituídos por ... tundra? Não, neve! Nessa época do ano vimos pouquíssima tundra, o que vimos mesmo foi gelo e por todos os lados, inclusive por cima e por baixo. Planícies contínuas cheias de neves e caribus, rebanhos enormes deles. E isso é que é mais incrível: existe vida nesse lugar do planeta. Além de caribus, vimos raposas, corujas, esquilos e muita ptargiman, a ave símbolo do Alaska. Procuramos mas não encontramos ursos, a raposa do ártico nem o boi almiscarado. Até brincamos que essa bicharada só não vai embora porque nunca mostraram para eles que existem lugares onde a grama é sempre verde! Imagina, o trabalho que esses animais têm para se alimentar! São campeões em sobrevivência! No North Slope, o sol nunca se põe entre dia 10 de maio e 2 de agosto e nunca aparece entre 18 de novembro e 23 de janeiro. E mesmo assim, quanta vida! 


Mas não chegamos a Deadhorse. Voltamos 95km antes de chegar lá, na latitude 70, pois já estávamos contentes com o que havíamos vivenciado além do termômetro estar marcando -16 graus celsius (não era noite, era começo de tarde) e da visibilidade ter ficado muito prejudicada com uma tempestade de neve que chegou com força do oceano. Desse ponto em diante, mudamos de sentido e ao invés de estarmos rumo ao norte, estaremos rumo ao sul, na segunda parte de nossa aventura. 


Nossa experiência foi nessa época do ano e a Dalton Highway acabou proporcionando a experiência de rodar no meio do gêlo e por isso foi única e inesquecível. A estrada tem alguns trechos de asfalto, muitos de terra mas em bom estado de conservação. Foi a estrada mais movimentada em termos de carga, com caminhões em alta velocidade mesmo, mas a maioria muito gentil quando nos ultrapassava. Saiba que essa não é uma estrada turística, é uma estrada de serviço portanto, os caminhoneiros sempre têm a preferencial.


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