sábado, 27 de abril de 2013

A Argentina e a longa Ruta 40


Tanto a fronteira Bolivia/Chile quanto a Chile/Argentina(Salto Jama) são peculiares. A imigração e aduana de um pais para o outro ficam distantes umas das outras. Demos a saída em San Pedro do Atacama (Chile), dessa vez tudo foi bem rápido pois chegamos minutos antes dos ônibus de passageiros. A saída foi bem tranquila, apenas demos baixa nos passaportes e cancelamos o seguro obrigatório.
A imigração e aduana Argentinas ficam a 160 km de San Pedro. A estrada é linda e passa pela Reserva dos Flamingos e algumas lagoas. A entrada foi muito tranquila. Entramos com o passaporte e para o carro, nenhum papel foi feito graças ao acordo do Mercosul que aceita a documentação do carro do Brasil na Argentina sem nenhuma burocracia.
O único senão da Argentina é o seguro carta-verde, obrigatório. Apesar de sua obrigatoriedade, nessa fronteira não existe uma oficina para fazer tal seguro. Por isso, no Chile, tivemos que ir até a cidade de Calama somente para fazer a carta-verde e ainda demos sorte de encontrar uma alma caridosa que não complicou nossa vida e fez o seguro bem rapidinho. Em tempo: o carta-verde não é solicitado na entrada, apenas em paradas policias na estrada.
Passo Jama

Salimas Grandes
A estrada do Jama até Tilcara é bem bonita. Passamos por um salar impressionante no caminho, conhecido como Salinas Grande. Não tem o impacto de Uyuni mas é acessível. Fica na beira da estrada.
Tilcara, nossa primeira cidade argentina, é uma cidade que fica na região da Quebrada de Humahuaca. Essa região possui uma geografia particular, com montanhas avermelhadas que lembram algumas paisagens do deserto dos Estados Unidos. Tilcara é bem pequena e tranquila, uma boa parada para quem não quer esticar muito a viagem até Salta ou Jujuy.
De Tilcara fomos para Salta principalmente porque precisávamos fazer coisas de cidade grande como trocar óleo e fazer câmbio. Fomos direto ao Camping Municipal Carlos Xamena onde ficamos por três noites. O camping era mais ou menos. Na verdade, a Argentina é lotada de campings mas a maioria é muito ruim. As instalações não são bem cuidadas, muitos não têm banho quente, assento na privada, tem muito lixo espalhado e uma frequência muito barulhenta. Mas são baratos e muitos.  O curioso desse camping é que tem a maior piscina que já vimos na vida. Gigante, maior que dois campos de futebol! Estava vazia na época que fomos. E nessas, o camping ficou conhecido entre nós como o camping da piscina.

Piscina gigante

Saudades de uma ferramenta

Justamente no dia que havíamos programado fazer todas as coisas comerciais que precisávamos, era 20/02, dia da Batalha de Salta, feriado municipal extremamente comemorado e, obviamente, com todo o comércio fechado. Vimos uma pequena parte do desfile com cavalos e cavaleiros vestidos de roupas típicas. E nossa estadia nessa cidade que era passagem teve que ser estendida.

Todos preparados para a famosa representação

Agora, surpresa das surpresas, fomos ao ótimo Museu de Arqueologia de Alta Montanha (P$ 40). O museu é pequeno mas contem ótima coleção inca, inclusive múmias de crianças encontradas “dormindo”no topo do vulcão Llullaillaco (6.739 m). O estado de conservação das múmias é impressionante, estão ótimas graças ao frio. Infelizmente não temos fotos pois é proibido fotografar dentro do museu mas temos informações que são interessantes de serem compartilhadas.
La Doncella/foto de divulgação
O capocha era um ritual inca onde crianças e mulheres jovens eram oferecidas aos deuses. Esses rituais se realizavam com certa regularidade. As crianças mais lindas de cada povoado inca eram levadas a Cusco onde eram santificados pelo imperador como filhos do deus Sol. Eram casados entre si para fortalecer a aliança entre os povos e desfilavam pelas ruas de Cusco em grande festa. Ao regressar as suas aldeias, eram recebidos com celebrações que duravam dias e depois, conduzidos até uma montanha. Ao chegar ao cume, as crianças eram sedadas com uma bebida alcoólica a base de milho (chicha) e depositadas inconscientes num pequeno refugio de pedra, junto com várias oferendas, na verdade as mais belas oferendas que as aldeias podiam produzir, inclusive em ouro e em tapeçaria e cercadas de brinquedos como bonequinhas (no caso da menina) e alpacas (no caso do menino). A partir desse momento, todos consideravam a montanha sagrada, já que do topo dela as crianças santificadas estavam guardando e protegendo seu povo. Para os incas, as crianças estão dormindo. Nós que não somos incas sabemos que essas crianças morreram de hipotermia ou coma alcoólico, perde muito a poesia principalmente porque estamos tratando de pessoas. O mais curioso é que vira e mexe ouvimos que “essa montanha é sagrada”ou “vale sagrado”sem saber realmente qual o significado desse “sagrado”. E no caso das montanhas, foi uma verdadeira surpresa descobrir isso. Já descobriram mais de 20 múmias no topo de várias montanhas incas, uma delas no  Aconcágua.
Após Salta, fomo s conhecer a região de Cafayate, conhecida pela produção excelente de vinho branco com uva torrontés. Visitamos duas vinícolas: a Bodega Nanni e a Finca Las Nubes. Enquanto na Nanni fizemos uma visita guiada, nas Las Nubes a paisagem foi encantadora! Vale visitar as duas! Mas não estávamos com sorte com relação a eventos e em Cafayate estava rolando o maior evento da região justamente no dia que aparecemos ali: um Festival de Música. Tudo absurdamente lotado! Fugimos dali rapidinho e seguimos para Londres, onde encontramos um camping péssimo para passar a noite.

Finca Las Nubes

Cansados de tanto campings ruins, resolvemos ficar na cidade de Chilecito num hotel barato com wifi, tomar banho quente e relaxar um pouco. Mas antes, aproveitamos para passear pela cidade de Tafi del Vale, um charme! Pena que estava rolando uma feira qualquer que nos afugentou novamente...
Cancha de bochas
Nosso objetivo nessa região era visitar os Parques Nacionais com presença de dinossauros- o Talampaya e o Ischigualasto. Visitamos apenas o segundo num roteiro de 40 km que durou três horas. O grupo é acompanhado por guia que vai dando detalhes de como era a geografia e sobre os dinossauros que ali encontraram. Passamos pelos principais pontos do parque: El Gusano, Valle Pintado, Cancha de Bochas (interessantíssimo), El Submarino, El Hongo e as Barrancas Coloradas que ficam mais lindas no por do sol. Todos os fósseis de dinos foram encontrados no Valle Pintado onde existe uma concentração grande de bentonita, um mineral conhecido pela sua impermeabilidade que permitiu a conservação dos fósseis. Nesse local, foi encontrado o fóssil de dinossauro mais antigo do mundo.

Marcas de quando tudo era mar


Barrancas Coloradas


O Parque ainda conta com um pequeno museu e o melhor, pagando uma taxa simbólica, pode-se acampar tendo banheiros quentes, pias, energia e até wifi incluída no pacote.
Museu 
Depois de pular de cidade em cidade, decidimos sossegar o facho em Mina Clavero, uma cidade conhecida por balneários de rio. Descansamos mas descobrimos um problema bem grande: uma bolha no pneu dianteiro. O pneu precisava ser trocado, não em Mina que não tinha nosso pneu. Procuramos numa cidade próxima, San Luis e como não encontramos o que precisávamos, fomos para Mendoza onde chegamos, adivinha? bem no dia da Vendímia, a maior festa do vinho na Argentina. Mas dessa não fugimos. Por quê? Ora, esse é assunto para um próximo post!
Ruta 40, esse  é só o começo
Mas e a tal ruta 40 do título do post? Essa é uma estrada famosa aqui na Argentina. Liga o norte ao sul do país, até Rio Gallegos, quase no estreito de Magalhães. Nós a pegamos praticamente em toda nossa viagem pela Argentina rumo ao sul, começando em Cafayate. Uma estrada cheia de lugares interessantes e com muitos, muitos trechos de rípio. A parte norte foi apenas o primeiro trecho dessa longa estrada que leva ao nosso objetivo sul da viagem: Ushuaia

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Deserto de Atacama

No caminho dos geiseres


San Pedro do Atacama
Levamos um choque quando chegamos a San Pedro do Atacama no Chile. Depois de passar dias de solidão na Bolívia, cair numa cidade com o maior burburinho de turistas nos fez sentir incomodados. E olha que a cidade é pequena.
Na verdade, minúscula! A gente saiu da Bolivia com um pensamento “Ahhh, que bom. Agora vamos para um país mais organizado e vamos ao supermercado fazer umas comprinhas.” Ledo engano. Até encontramos um super em Calama mas nada que se comparasse com os ótimos Jumbos espalhados nas melhores cidades chilenas. Supermercado mesmo, com letra maiúscula, só em Salta, na Argentina.
Mas, lógico que passamos por San Pedro não apenas para comprar alimentos. Fomos atraídos pelo seu famoso deserto, o deserto de Atacama, o deserto mais seco do mundo. Nessa região, existem locais sem precipitação de chuva e com grande oscilação térmica.
San Pedro fica numa depressão altiplânica, a 2400 metros do nível do mar. Baixinho considerando a altura média que pegamos na Bolívia...
As paisagens de deserto sempre são fascinantes, principalmente as cores. O Atacama não foi diferente. O mais bacana do Atacama é que ele também tem um salar gigantesco. Por causa disso, visitamos uma das lagoas mais bonitas da viagem, a Laguna Cejar. Essa laguna está localizada a 20 kms de San Pedro, entre as dunas do Salar. A borda da lagoa é toda de cristais de sal. O fundo dela também! Impressionante as cores da água, transparente! O mais incrível é que nesse ambiente inóspito existe alguma vida. Vimos muitos insetos, umas larvas em ocos da lagoa, lagartixas e aves. A laguna Cejar é só para fotografar. Mas você não sai com água na boca.
Laguna Cejar

Olha só o sal
Ao lado, a lagoa Piedra é aberta para um mergulho. Como a Cejar, ela é todinha de sal nas bordas. Mas o incrível é entrar em suas águas e sentir como a flutuação é fácil. Dizem que é como o Mar Morto, mesmo que você queira, não consegue afundar. Agora, se tiver algum machucadinho vai sentir arder na hora. Ficamos bem pouquinho na lagoa, muito sal pro nosso gosto, foi só para sentir essa flutuação mesmo. Ao sair, ficamos cobertos de sal, os dois bem branquinhos. Ainda bem que eles têm uma mangueira com água doce pro pessoal tirar esse sal todo... 
O lugar onde a galera vai fazer sandboard é no Vale da Morte. Fica no caminho para a Cordilheira de Sal, uma cadeia de montanhas intrigante, mesclada de terra e sal. Para chegar a duna, caminha-se uma meia hora do estacionamento num sol causticante. Dai chega numa duna onde a diversão é garantida. Afinal de contas, a maioria das pessoas aluga a prancha na cidade para descer na duna achando que é fácil. Resultado: vimos muito chão! Tem muita gente que faz esse passeio de bicicleta a partir de San Pedro. É perto. O Vale da Morte é gratuito.
Capote nas dunas

Já o Vale da Lua não. Paga-se CHP$ 2000 pp e resolvemos visitá-lo ao entardecer quando disseram que é mais bonito. E mais lotado, acrescento eu. São váááários ônibus de excursão que chegam ao mesmo horário para assistir o pôr do sol que nem é tudo isso.  O mais bonito nesse horário é o vulcão Licancabur, que faz fronteira com a Bolívia, iluminado com as cores do entardecer.
 
Vale de la Luna
Chegamos ao Vale um pouquinho antes e seguimos direto para as formações rochosas chamadas Três Marias. Próximo a elas, numa das piores estradinhas de terra que já pegamos, visitamos as Minas Crisanta. Apenas lá que descobrimos que muitas das montanhas que vemos são inteiras de sal! Pedras de sal cobertas com pó de terra. A chuva cria formas afiadas e espantosas. Ficamos boquiabertos com a descoberta!
Montanha de sal derretida pela chuva

Apesar de nossa frustração com o pôr-do-sol, a visita vale a pena! É muito bonito ver um vale salpicado de sal!
Vale de la Luna

Próximo ao San Pedro está o Parque El Tatio Geysers. Fica a 90km de distância em estrada de chão com muitos trechos ruins e a 4320m de altura. Esse campo geotérmico é o mais alto do mundo.
Geiser

Muitas empresas levam turistas para ver os gêiseres em atividade partindo de San Pedro. Como o período de maior atividade é entre 6 e 8 horas da manhã, eles saem de San Pedro por volta de umas 3 e meia, 4 horas da manhã. Mas não para quem tem um Jumbo! Passamos o dia no parque, aproveitando inclusive uma deliciosa piscina termal no período da tarde, dormimos dentro do parque e acordamos as quinze pras seis para ver os tais gêiseres.
Qual não foi nossa surpresa quando percebemos o congestionamento de ônibus no centro de visitante! O pessoal madruga mesmo para ver os gêiseres que nesse horário chegam a expelir água a 10 metros de altura. 
Só de manhã bem cedo os jatos atingem essa altura

Depois de ver os gêiseres, resolvemos tomar nosso café da manhã num local que achávamos que estaria mais sossegado e, novamente surpresos, vimos a piscina termal que estava quase vazia no dia anterior absolutamente lotada. Isso que estava negativa a temperatura. Bom, só para informar, pegamos quase menos 4 durante a madrugada. Apesar de toda muvuca, conseguimos esquentar água para o chá aproveitando toda a força da natureza: com a água quente do geiser.
À tarde na piscina termal.

O mesmo lugar de manhã! 

Nossa panelinha foi tão fotografada por turistas quanto os geiseres...

Dos gêiseres, seguimos para Calama, uma cidade grande onde poderíamos fazer o seguro carta verde, obrigatório na Argentina mas que não é vendido na fronteira nem em San Pedro. Felizmente conseguimos fazer o tal seguro numa loja Paris, com uma atendente que queria vender e resolveu nosso problema na hora.
A estrada até Calama é linda, passamos por várias quebradas. O trecho mais bonito foi o vale Lasana, um vale estreito mas extremamente verde e fértil no meio do deserto. Ainda passamos em Chiu Chiu e visitamos a mais singela ingreijinha da viagem, a Igreja de San Francisco.
Vale Lasana

Iglesia San Francisco

Nossa primeira passada pelo Chile foi rápida. Daqui até a Terra do Fogo, faremos um zigue-zague entre Argentina e Chile, passando pela ruta 40, vinícolas, região dos lagos, patagônia e finalmente, Terra do Fogo onde está o nosso ponto sul da viagem: Ushuaia.

Linda paisagem!

domingo, 14 de abril de 2013

A difícil arte de comprar combustível na Bolívia


- Acabou o diesel.
- Não temos o formulário para estrangeiros.
- O próximo posto vende para estrangeiro.
- O governo ainda não definiu o preço do combustível para estrangeiros esse mês.
- Não podemos abastecer seu carro. Aqui tem câmeras.
E assim vai. Ouvimos toda a sorte de criatividade em desculpas esfarrapadas para não abastecerem nosso carro na Bolívia.
Uma hora e meia prá conseguir combustível do caminhoneiro

Quando entramos na Bolívia, na região de La Paz, fomos em 16 postos até conseguir um para abastecer comprando diesel do tanque de um caminhoneiro, passando para o nosso com mangueira. Deprimente.
Essa situação ridícula de quase pedir pelamordedeus por uns mirrados litros de combustível está assim desde 2008 quando o governo boliviano decidiu colocar um processo e preço especial para o combustível vendido a estrangeiros. Dizem que fizeram isso para prevenir o contrabando do combustível boliviano para os países vizinhos. E preço especial significa pagar três vezes mais que o local. Mesmo pagando mais, não querem te vender.
Civilização! Oba!
E olhe que o combustível boliviano é de péssima qualidade. Sem dúvida alguma foi o pior de todos os que usamos. Logo depois que saímos da Bolívia, tivemos que trocar o filtro de combustível. E isso ainda saiu barato, outros viajantes tiveram problemas bem piores, com sujeira nos bicos injetores e outros problemas sérios no motor.
O lado bom é que essa situação é pior mesmo próximo a La Paz. Em outras regiões do país, pudemos abastecer com menos dificuldade e pagando um preço melhor (lá pelo dobro do preço local). Mas em Uyuni, o problema é ainda pior: a falta de combustível mesmo. Locais e estrangeiros tem a mesma dificuldade lá. Nem pense em abastecer de final de semana. Na 6ª feira já começam filas gigantes pra abastecer. Nós conseguimos comprar 20 litros de um comerciante local que nos cobrou o preço cheio de turista.
Amamos a Bolívia, seu povo e suas paisagens. Mas foi um alívio chegar ao Chile e voltar a abastecer sem precisar ficar implorando, negociando antes e pagar com o cartão de crédito!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Sudoeste boliviano, nosso top 2!


Achamos que a cota de belezas da Bolivia havia se esgotado no salar. Ainda bem que estávamos enganados. A inacessibilidade do sudoeste boliviano preserva suas paisagens deslumbrantes e a rica fauna selvagem e acabou ocupando o segundo lugar nos top Anima da viagem.

Nosso roteiro foi de Uyuni até San Pedro do Atacama, no Chile. Nesse trecho passamos quatro inesquecíveis dias de silêncio, frio e belezas que tínhamos experimentado apenas no Alaska.
Saímos à tarde de Uyuni, logo depois de fazermos a excursão do Salar de Uyuni. Essa primeira noite, passamos num lindo mirante na estrada.

Vista do mirante hospedagem

Na manhã seguinte, saímos cedinho para tentar encontrar os grupos de excursão na Vila Alota às 8h.
Preferimos seguir um guia local para fazer o trecho do oeste da trilha que é bem mais complicado, porém mais bonito, que a estrada que vai direto à Laguna Colorada.
Passamos por três lindas lagoas (Chullucani, Pastos Grandes e Khara) onde vimos cores que não existiam na nossa palheta ainda, como tons de azul, verde, branco e vermelho. Esses desertos são uma maravilha para descobrir cores novas! Cada laguna é única mas de uma coisa você pode ter certeza: nessa época do ano (fevereiro) tem muitos flamingos posando para fotos.


Nossa última atração com o grupo foi a Árvore de Pedra, uma formação rochosa esquisita perto do Desierto de Siloli. Daí prá frente, continuamos sozinhos pois volta-se para a estrada principal e fica bem mais dificil se perder.

Árvore de Pedra

Chegamos ao Parque Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa e pagamos a cara taxa de entrada (Bs150 ) para quatro dias de permanência, podendo realizar free campings mas sem nenhuma estrutura básica de apoio como banheiros ou água. É você e a natureza!
Visitamos um mirante para a Laguna Colorada logo a esquerda da entrada e já sentimos o vento implacável dessa região. Mesmo com ventania, conseguimos fazer o almoço do lado de fora do carro mas pouco apreciamos do mirante.
Com a barriga cheia, continuamos nosso passeio para o parque propriamente dito e depois de visitar um canyon, decidimos passar a noite em frente a Laguna Colorada mesmo. Dentro do carro, não sentimos tanto o vento e ficar com a varanda virada para essa lagoa é estar um pouquinho no paraíso.
Varanda móvel, nunca enjoa

A Laguna Colorada tem esse nome por causa de sua cor vermelha e em alguns pedaços, branca. O vermelho vem de uma alga e o branco pode ser uma mistura de três coisas: gelo, sal e outro tipo de alga. Dizem que essa parte branca tem diminuido consideravelmente através dos anos.
Laguna Colorada

No outro dia pela manhã, passeamos pela borda da lagoa, habitat das três espécies de flamingos: o chileno, o andino e o James. Ficamos algumas horas observando os flamingos que não se cansavam de posar para fotos e o resultado foi que temos aproximadamente 200 boas fotos de flamingos.


Da Colorada, fomos tomar um banho quente num poço termal ao lado da Laguna Salada e decidimos passar a noite nesse local mesmo. Paramos mais cedo nesse dia pois por volta das 16 horas, começou a nevar o que dificulta os passeios. Dormimos mais uma vez em meio ao silêncio absoluto só cortado pelo barulho do vento e dos flamingos.
A noite é fria mas o céu é um monte de estrelas. Pegamos mínima de - 3,6 graus e sabemos que estavamos na estação quente do ano. Com altitude média de 4300 metros, frio e neve estão sempre presentes. Vá com roupas quentes!
No dia seguinte, visitamos os geiseres, inclusive o mais famoso que chama-se Sol da Manhã. Passear pelos geiseres requer muito de outros órgãos do sentido: escuta-se o barulho deles que pode ser de borbulhas de lama ou de algo parecido com o chiado de uma panela de pressão; e o olfato claro, o cheiro de ovo podre e enxofre é onipresente.

Gêiser

Seguimos para as lagunas Blanca e Verde, aos pés do vulcão Licancabur que faz fronteira com o Chile passando no caminho pelo Deserto de Dali. Uma paisagem deslumbrante!
Laguna Verde

Foram tantas paisagens bonitas nesses poucos dias que ficamos em êxtase e a Bolivia nos cativou profundamente, mesmo com todo o problema que tivemos para comprar combustível como contaremos no próximo post.

Dicas para overlanders:

Quando resolvemos fazer esse caminho, tínhamos muitas dúvidas pois na internet as informações são poucas. Portanto, se você quer fazer esse trecho sem contratar excursão, recomendamos que você se informe em algumas agências de turismo e com os guias 4x4 na própria cidade de Uyuni. Primeiro, é importante saber como estão as condições das estradas. Novamente, o caminho foi restringido pela chuva e acumulo de água nas estradas. Uma boa é observar os carros que saem para fazer esse percurso e se o seu carro tem condições parecidas como altura e pneu. Imprescindível é ter carro traçado. Sem isso, esquece!
Descobrimos que os carros que fazem essas lagoas off road partem da Vila Alota as 8:00. Como não conseguimos combinar de segui-los em Uyuni, resolvemos encontra-los umas 7:50 e combinar diretamente com os motoristas. Para tanto, dormimos num mirante da estrada pois essa cidade fica distante de Uyuni.
No total, rodamos 632 kms entre Uyuni, lagunas off road, parque Eduardo Avaroa até chegar em San Pedro do Atacama. Combustível existe em Uyuni e Atacama. Portanto, calcule quanto você consome para ter uma autonomia de uns 800 kms pois imprevistos podem acontecer. Nós saímos com o tanque cheio mais dois galões de 20 litros mas voltamos com um galão cheio.
Você estará isolado. Não espere encontrar restaurantes e hospedagens super charmosos. O melhor é levar comida e água para esse período com uma folguinha principalmente de água potável. Na Bolívia tomamos sempre água mineral. A água das torneiras de Uyuni eram amareladas, enchemos algumas garrafas para usar para lavar pratos e mesmo assim ficamos ressabiados.
Venta e faz muito frio. No verão, pegamos mínima de – 3,6C e neve no meio da tarde. No inverno nos disseram que bate os -15C. Hora de usar as roupas mais quentinhas, vestindo-se em camadas e com os acessórios de frio como cachecol, gorro e luva. É interessante ter um aquecedor a gás para noite. Existem umas hospedagens no Parque caso você não queira ficar em barracas mas não fomos nos informar sobre preços pois o Jumbo é confortável, quentinho e limpo ainda mais comparado com certos lugares.
A condição das estradas é de péssima para horrorosa. O Jumbo sentiu e precisamos trocar três coisas: o filtro de combustível, o rolamento do cardan e um dos pneus que formou uma bolha gigantesca.
Que bolha perigosa


Fronteira Bolívia/Chile: Paso Cajón
Essa foi uma das fronteiras mais esquisitas por onde passamos. Para cancelar a importação temporária do carro, precisa passar na aduana que se localiza a uns 90 kms da imigração. Fomos duas vezes até a aduana pois o primeiro dia era terça feira de carnaval e segundo o segurança estavam todos borrachos (bêbados). Ainda bem que estávamos sem pressa e tínhamos comida e combustível para ficar indo e vindo.
Voltamos no dia seguinte e o procedimento foi tão tosco que não sei até que ponto é necessário cancelar esse documento. Apenas entregamos o papel e só após muita insistência nos deram uma cópia carimbada que não foi pedida na imigração.
A aduana fica a S 22*26.447’ W 67*48,358’, mais ou menos próximo ao gêiser do Sol da Manhã, a 5.000 metros de altitude. Deve ser uma das fronteiras de maior altitude em todo o mundo!
Não se deixe enganar pelos bracinhos de fora. A 5000 m estava frio.

Dai seguimos para a imigração dar baixa no passaporte. O funcionário nos pediu Bs 15 por pessoa. Quando pedimos o recibo, ele carimbou o passaporte e deixou para pedir a  propina dele para outro que não saiba que não existem taxas a serem pagas na saída da Bolívia.
Mais estranho ainda, a imigração e aduana do Chile fica super longe, na cidade de San Pedro do Atacama, a 45 quilômetros da Bolívia.
Para imigração, preenchemos a tarjeta migratória e deram entrada no passaporte. Para o carro, apresentamos o documento original do carro, CNH e carimbo de entrada no país. Eles emitem um documento de importação temporária sem custos.
Nessa e em todas as fronteiras chilenas, existe uma fiscalização sanitária, ele procuram frutas, vegetais e derivados do leite principalmente. E confiscam tudo que está proibido entrar no Chile.
Essa fronteira demorou 1:30 só no Chile pois demos o azar de chegar após dois ônibus de passageiros. 

domingo, 7 de abril de 2013

Salar de Uyuni


Visitar o Salar de Uyuni na Bolivia foi um dos pontos altos da viagem. O lugar é incrível!
Com 12.000 quilometros quadrados de área, é o maior deserto de sal continuo do mundo. 

Veja só o tamanho do salar ao lado de São Paulo
Para visualizar melhor, o salar é maior que a Grande São Paulo. Ficamos impressionados com essa informação e resolvemos colocar uma imagem do google para vocês também poderem ter um pouquinho da ideia da dimensão do Uyuni. A escala utilizada nos dois mapas é a mesma.
Quando a gente lê que o salar fica num altiplano, não tem noção do que isso significa. Uma área plana numa região alta, significou para nós mais de três semanas acima dos 3000 metros. Nós que nascemos e vivemos pé na areia, tivemos sorte e não sentimos o mal da altitude, como dores de cabeça, enjoôs, que muitos viajantes sentem. Talvez porque fizemos essa adaptação gradual, mal percebemos que o salar fica a 3650 metros. Bem, apesar que sentimos outros efeitos da altitude como frio e o ar mais rarefeito mas nada que impedisse nossos programas. Para quem pretende visitar uma região que fica nas alturas, além de uma adaptação gradual que significa subir aos poucos, em pelo menos dois dias, é importante se hidratar bem. Água e chá são os mais indicados nesse caso. E se estiver no Peru ou na Bolivia, é possível comprar folhas de coca que aparentemente também funcionam.
O salar é composto por 11 camadas, sendo que a crosta, a que vemos, tem uma profundidade de 10 metros. Estima-se que tem 10 bilhões de toneldas de sal dos quais 25.000 toneladas são extraídas anualmente. A Bolívia não precisa se preocupar com falta de sal por milhares de anos.


Além desse monte de sal, o salar é a maior reserva de lítio do mundo. Com certeza, você usa mais lítio do que imagina, já que ele está presente no celular, em pilhas e em computadores. Portanto, tem muita gente de olho grande nessa reserva. Descobrimos que a Bolivia começou a explorar essa riqueza há bem pouco tempo mas aparentemente a extração de lítio não é fácil além de precisar de muita água, coisa rara nas imediações do salar.
Nossa experiência foi um pouco distinta da de outros viajantes. Chegamos após a época de chuva, uma época curta do ano mas que coincidiu com a época que estávamos ali. Por esse motivo, não conseguimos cruzar o salar com o Jumbo nem visitar a Isla del Pescado pois a água impedia que passássemos com o carro. Mas encontramos o maior espelho que com certeza veremos em nossas vidas.
Por ser branco e plano, juntamente com a água da chuva, o salar cria paisagens surreais. A sensação é única!
Vimos também os ocos, os desenhos geométricos criados naturalmente pelo sal.
Com essa perspectiva atrapalhada, as fotos ficam interessantes. Vá com o cartão de memória bem vazio.

Saindo da cidade de Uyuni, você vai passar por uma pequena comunidade chamada Colchani. Nela, o povo trabalha com o turismo, vendendo artesanato e também da extração de sal. Suas casas são feitas de blocos de sal, assim como o hotel onde almoçamos que além das paredes tinha cadeiras, mesas e esculturas de sal.
Artesanato em sal

Esse é um dos lugares que está na lista para se visitar novamente, mas da póxima vez, na estação seca quando poderemos cruzar esse imenso branco com o carro.

As paredes são feitas de blocos de sal

Dicas:
- se for com o seu carro e sozinho leve combustível extra e tenha um GPS. Além de muita água e comida. Se perder no salar é fácil. Ele é gigantesco e confunde as pessoas com suas paisagens surreais e falta de perspectiva.
- pegamos uma excursão para visitar o salar e evitar o contato do sal líquido com o Jumbo. Como não podiamos cruza-lo já que muitos trechos estavam intransponíveis, decidimos poupar o carro, o que achamos que foi uma boa decisão.

Sal líquido não faz bem para o carro

- a cidade base é Uyuni. O que esperar de uma cidade boliviana isolada e com pouca água potável? A cidade é pequena, com poucos serviços. Chegamos na sexta feira santa e vários, repito, vários hotéis estavam fechados. Restaurantes então, era implorar pelamordedeus para te atenderem. Sobrevivemos por uma noite e após o passeio, continuamos nossa viagem pelo altiplano boliviano, dormindo na estrada rumo ao parque Eduardo Avaroa e suas lindas lagunas com flamingos.
A cidade de Uyuni

- se você quer conhecer um lugar único no mundo, visite o salar. Podem ter lugares melhores e piores mas nenhum vai causar a sensação de caminhar em um lugar tão único como aquele. E mais do que as milhares de fotos que você com certeza vai tirar, aproveite para sentir aquele lugar. E como o mundo é cheio de surpresas e coisas novas. Sempre!

Vale o esforço

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