O Projeto

"Procurai sempre conjugar o divino que há em vós
com o divino que há no universo"
Plotino
A idéia de sabático permeia a história antiga. Os judeus costumavam plantar seus alimentos no mesmo solo por seis anos consecutivos. Após esse período, deixavam o solo descansar por um ano e eles mesmos, providos com colheitas dos anos anteriores, descansavam e usufruíam do seu trabalho. Após esse período, iniciava-se novo ciclo de fertilidade.
Nossa vontade de realizar um sabático ocorre nesse sentido. Uma pausa naquilo que estamos acostumados a fazer e sabemos fazer bem, para experimentar novos desafios e rever nossos rumos. Nesse sentido, a definição de sabático que consta no dicionário Aurélio cabe bem:
“Sabático: [do lat. tard. sabbaticcu] 3. Relativo a qualquer período em que observe interrupção ou suspensão de certas atividades regulares”
Pensamos então em realizar essa interrupção, acrescentando aventura, natureza e desprendimento. Com isso nasceu o projeto Anima, que envolve cruzar a América de carro no período de um ano, conhecendo e documentando a diversidade cultural americana, passeando por parques nacionais desses países, visitando algumas escolas e morando nesse carro com bem menos conforto e facilidades que estamos acostumados a ter.
A idéia de aventura nos fascina. Dentro do homem existe essa vontade de superar desafios, descobrir o novo, saber o que existe onde não se está presente. Não importa qual o desafio – ir à lua, cruzar a América de carro ou ter um filho - o homem busca superar-se sempre. Ainda bem. Devemos louvar Cristóvão Colombo, Américo Vespúcio, Pedro Álvares Cabral, Aristóteles. Aristóteles? Ele não era filósofo? Bem, sem cruzar os oceanos ele foi looooonge com suas ideias e pensamentos, atualíssimos por sinal. Mas fiquemos nos desbravadores de territórios físicos e deixemos os filósofos nas entrelinhas. Nada disso existiria se um homem comum não quisesse saber o que havia depois do horizonte...
As palavras de nosso Fernando Pessoa, que não viajava nunca mais foi um verdadeiro desbravador da língua portuguesa, nos faz ver exatamente isso:
Ó MAR SALGADO, quanto do seu sal
São lágrimas de Portugal
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar.

Valeu a pena? Tudo vale a pena
se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."

Não queremos comparar nossa aventura pessoal com esses grandes conquistadores. Somos pessoas comuns. Como você.  Mas decidimos atrever-nos a fazer algo diferente, algo que nos tirasse da nossa zona de conforto, em busca do novo, pelo menos para nós.
As pessoas que convivem com a gente sabem que sempre gostamos de passeios que envolvam a natureza. Passeios que para muitos são considerados de “índio”. Trilhas, trekkings, cachoeiras, mirantes, lugares inóspitos e de difícil acesso são nossos programas preferidos nas férias.  Sentimos-nos conectados com o todo de uma forma muito especial. Gostamos de admirar o belo e o selvagem  e perceber como somos pequenos diante da complexidade do universo.
Além disso, somos admiradores da humanidade e perceber como comportamentos humanos são repetidos desde a Grécia Antiga até a sociedade contemporânea nos fascina. A essência humana é igual desde sempre. E esse fato nos intriga. Você já leu alguma obra de Aristófanes? Pois então, em suas comédias escritas para os teatros gregos estão lá características atemporais: políticos corruptos, vaidade, juros compostos, dívidas, bebida como forma de esquecer, participação popular, inveja, prostituição, medos e inseguranças. Apesar de toda tecnologia, nossas preocupações são as mesmas.
Baseados nesse conceito, iremos registrar para futura organização brincadeiras infantis praticadas pela América. Elas são um retrato das sociedades e poderemos através delas estabelecer vínculos com algumas escolas, compartilhando projetos educativos através das mídias eletrônicas, aproximando escolas fisicamente distantes. Temos a intenção de levar material de divulgação de algumas secretarias de educação para essas escolas, oferecendo a possibilidade de uma troca de experiências a distância.
Mas tudo isso se refere a aspectos externos de um sabático, relativos aos outros e ao espaço. E a questão da interioridade? Onde fica?
Nossa rotina hoje já está bastante alterada. Nosso tempo livre está praticamente tomado pelo planejamento do projeto. Temos site e blog para tocar. Pesquisas relativas aos destinos para realizar. Preparativos relativos à saúde, empregos, contas de banco, casa e afins. E o que mais tem tomado nosso tempo, um carro para transformar numa micro casa. Fora que elaborar textos é uma atitude extremamente visceral. Organizar pensamentos é uma atitude que requer muita internalização.
Anima foi o nome que melhor quer exprimir o sentido de nosso sabático. Anima se refere à interioridade, a alma, ao sopro da vida. Sopro que não precisa ser vento para ser sentido, mas precisa de atenção, disponibilidade, busca, interiorização.  Durante esse período, teremos que aprender a viver de uma forma diferente: menos espaço para guardar nossos pertences, menos dinheiro, mais saudade da família e amigos. São alguns desafios que realmente teremos que enfrentar. Mas acreditamos que essa experiência será extremamente enriquecedora e trará novo folêgo para novos projetos.
Acompanhe nossa aventura no site e blog através dos seguintes endereços:

Marina e Mauro

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