sábado, 27 de abril de 2013

A Argentina e a longa Ruta 40


Tanto a fronteira Bolivia/Chile quanto a Chile/Argentina(Salto Jama) são peculiares. A imigração e aduana de um pais para o outro ficam distantes umas das outras. Demos a saída em San Pedro do Atacama (Chile), dessa vez tudo foi bem rápido pois chegamos minutos antes dos ônibus de passageiros. A saída foi bem tranquila, apenas demos baixa nos passaportes e cancelamos o seguro obrigatório.
A imigração e aduana Argentinas ficam a 160 km de San Pedro. A estrada é linda e passa pela Reserva dos Flamingos e algumas lagoas. A entrada foi muito tranquila. Entramos com o passaporte e para o carro, nenhum papel foi feito graças ao acordo do Mercosul que aceita a documentação do carro do Brasil na Argentina sem nenhuma burocracia.
O único senão da Argentina é o seguro carta-verde, obrigatório. Apesar de sua obrigatoriedade, nessa fronteira não existe uma oficina para fazer tal seguro. Por isso, no Chile, tivemos que ir até a cidade de Calama somente para fazer a carta-verde e ainda demos sorte de encontrar uma alma caridosa que não complicou nossa vida e fez o seguro bem rapidinho. Em tempo: o carta-verde não é solicitado na entrada, apenas em paradas policias na estrada.
Passo Jama

Salimas Grandes
A estrada do Jama até Tilcara é bem bonita. Passamos por um salar impressionante no caminho, conhecido como Salinas Grande. Não tem o impacto de Uyuni mas é acessível. Fica na beira da estrada.
Tilcara, nossa primeira cidade argentina, é uma cidade que fica na região da Quebrada de Humahuaca. Essa região possui uma geografia particular, com montanhas avermelhadas que lembram algumas paisagens do deserto dos Estados Unidos. Tilcara é bem pequena e tranquila, uma boa parada para quem não quer esticar muito a viagem até Salta ou Jujuy.
De Tilcara fomos para Salta principalmente porque precisávamos fazer coisas de cidade grande como trocar óleo e fazer câmbio. Fomos direto ao Camping Municipal Carlos Xamena onde ficamos por três noites. O camping era mais ou menos. Na verdade, a Argentina é lotada de campings mas a maioria é muito ruim. As instalações não são bem cuidadas, muitos não têm banho quente, assento na privada, tem muito lixo espalhado e uma frequência muito barulhenta. Mas são baratos e muitos.  O curioso desse camping é que tem a maior piscina que já vimos na vida. Gigante, maior que dois campos de futebol! Estava vazia na época que fomos. E nessas, o camping ficou conhecido entre nós como o camping da piscina.

Piscina gigante

Saudades de uma ferramenta

Justamente no dia que havíamos programado fazer todas as coisas comerciais que precisávamos, era 20/02, dia da Batalha de Salta, feriado municipal extremamente comemorado e, obviamente, com todo o comércio fechado. Vimos uma pequena parte do desfile com cavalos e cavaleiros vestidos de roupas típicas. E nossa estadia nessa cidade que era passagem teve que ser estendida.

Todos preparados para a famosa representação

Agora, surpresa das surpresas, fomos ao ótimo Museu de Arqueologia de Alta Montanha (P$ 40). O museu é pequeno mas contem ótima coleção inca, inclusive múmias de crianças encontradas “dormindo”no topo do vulcão Llullaillaco (6.739 m). O estado de conservação das múmias é impressionante, estão ótimas graças ao frio. Infelizmente não temos fotos pois é proibido fotografar dentro do museu mas temos informações que são interessantes de serem compartilhadas.
La Doncella/foto de divulgação
O capocha era um ritual inca onde crianças e mulheres jovens eram oferecidas aos deuses. Esses rituais se realizavam com certa regularidade. As crianças mais lindas de cada povoado inca eram levadas a Cusco onde eram santificados pelo imperador como filhos do deus Sol. Eram casados entre si para fortalecer a aliança entre os povos e desfilavam pelas ruas de Cusco em grande festa. Ao regressar as suas aldeias, eram recebidos com celebrações que duravam dias e depois, conduzidos até uma montanha. Ao chegar ao cume, as crianças eram sedadas com uma bebida alcoólica a base de milho (chicha) e depositadas inconscientes num pequeno refugio de pedra, junto com várias oferendas, na verdade as mais belas oferendas que as aldeias podiam produzir, inclusive em ouro e em tapeçaria e cercadas de brinquedos como bonequinhas (no caso da menina) e alpacas (no caso do menino). A partir desse momento, todos consideravam a montanha sagrada, já que do topo dela as crianças santificadas estavam guardando e protegendo seu povo. Para os incas, as crianças estão dormindo. Nós que não somos incas sabemos que essas crianças morreram de hipotermia ou coma alcoólico, perde muito a poesia principalmente porque estamos tratando de pessoas. O mais curioso é que vira e mexe ouvimos que “essa montanha é sagrada”ou “vale sagrado”sem saber realmente qual o significado desse “sagrado”. E no caso das montanhas, foi uma verdadeira surpresa descobrir isso. Já descobriram mais de 20 múmias no topo de várias montanhas incas, uma delas no  Aconcágua.
Após Salta, fomo s conhecer a região de Cafayate, conhecida pela produção excelente de vinho branco com uva torrontés. Visitamos duas vinícolas: a Bodega Nanni e a Finca Las Nubes. Enquanto na Nanni fizemos uma visita guiada, nas Las Nubes a paisagem foi encantadora! Vale visitar as duas! Mas não estávamos com sorte com relação a eventos e em Cafayate estava rolando o maior evento da região justamente no dia que aparecemos ali: um Festival de Música. Tudo absurdamente lotado! Fugimos dali rapidinho e seguimos para Londres, onde encontramos um camping péssimo para passar a noite.

Finca Las Nubes

Cansados de tanto campings ruins, resolvemos ficar na cidade de Chilecito num hotel barato com wifi, tomar banho quente e relaxar um pouco. Mas antes, aproveitamos para passear pela cidade de Tafi del Vale, um charme! Pena que estava rolando uma feira qualquer que nos afugentou novamente...
Cancha de bochas
Nosso objetivo nessa região era visitar os Parques Nacionais com presença de dinossauros- o Talampaya e o Ischigualasto. Visitamos apenas o segundo num roteiro de 40 km que durou três horas. O grupo é acompanhado por guia que vai dando detalhes de como era a geografia e sobre os dinossauros que ali encontraram. Passamos pelos principais pontos do parque: El Gusano, Valle Pintado, Cancha de Bochas (interessantíssimo), El Submarino, El Hongo e as Barrancas Coloradas que ficam mais lindas no por do sol. Todos os fósseis de dinos foram encontrados no Valle Pintado onde existe uma concentração grande de bentonita, um mineral conhecido pela sua impermeabilidade que permitiu a conservação dos fósseis. Nesse local, foi encontrado o fóssil de dinossauro mais antigo do mundo.

Marcas de quando tudo era mar


Barrancas Coloradas


O Parque ainda conta com um pequeno museu e o melhor, pagando uma taxa simbólica, pode-se acampar tendo banheiros quentes, pias, energia e até wifi incluída no pacote.
Museu 
Depois de pular de cidade em cidade, decidimos sossegar o facho em Mina Clavero, uma cidade conhecida por balneários de rio. Descansamos mas descobrimos um problema bem grande: uma bolha no pneu dianteiro. O pneu precisava ser trocado, não em Mina que não tinha nosso pneu. Procuramos numa cidade próxima, San Luis e como não encontramos o que precisávamos, fomos para Mendoza onde chegamos, adivinha? bem no dia da Vendímia, a maior festa do vinho na Argentina. Mas dessa não fugimos. Por quê? Ora, esse é assunto para um próximo post!
Ruta 40, esse  é só o começo
Mas e a tal ruta 40 do título do post? Essa é uma estrada famosa aqui na Argentina. Liga o norte ao sul do país, até Rio Gallegos, quase no estreito de Magalhães. Nós a pegamos praticamente em toda nossa viagem pela Argentina rumo ao sul, começando em Cafayate. Uma estrada cheia de lugares interessantes e com muitos, muitos trechos de rípio. A parte norte foi apenas o primeiro trecho dessa longa estrada que leva ao nosso objetivo sul da viagem: Ushuaia

2 comentários:

Seu comentário será publicado após aprovação.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...