É complicado
estabelecer um limite de onde começa a Patagônia. A maioria das fontes
consultadas diz que começa na região dos lagos e essa área é conhecida como
patagônia norte. Mas a vegetação e o clima da patagônia norte e sul são tão
diferentes que é difícil enxergar Bariloche como uma cidade patagônica.
Skyline Fitz Roy e sua turma |
A patagônia encanta.
Os animais, os lindos campos de gelo, a vegetação. É uma relíquia de um tempo
anterior. Tem sinais claros do período da ultima glaciação em forma dos hipnóticos
glaciares. Mas é um ambiente desolador.
Tanto a Ruta 40 em direção ao sul quanto a 3 ao norte são milhares – sim,
falamos de milhares- de quilômetros com a mesma paisagem: grandiosa e amarela.
Chega a ser entediante realizar esses longos trechos de carro. Mas fazer dessa
forma te coloca bem no olho do furacão: sim, a patagônia é um território de
espaços gigantescos!
E tem ainda o vento.
Que começa a soprar manso em Bariloche para vir com toda sua força em lugares
como Torres del Paine. Estamos falando de vento tão forte que soltando o corpo
contra ele você é impedido de cair no chão. O frio também é bastante mas a
sensação com o vento é de muito maior. É
importante e imprescindível estar bem agasalhado e com todas as partes do corpo
cobertas. Inclusive rosto. Tente dar um jeito!
A patagônia está em
território chileno e argentino, a divisão é política e as atrações se confundem
em linhas que delimitam fronteira. Por isso, resolvemos colocar tudo no mesmo
post. Também escrevemos alguns posts mais antigos sobre a região, de uma outra
viagem. Estão aqui nesses links (El Chaltén e Torres del Paine). Aqui vamos falar sobre a Cueva de las Manos, El
Chaltén, El Calafate e Glaciar Perito Moreno na Argentina e Torres del Paine e
Purto Natales do lado chileno.
O começo da patagônia nessa
viagem se deu na Cueva de las Manos Pintadas, próxima a cidade de Perito
Moreno. O local é conhecido pelos negativos de centenas de mãos de homens que
viveram na região há 13.000 anos. Uma das técnicas que os antepassados dos
Tehuelche usavam era assoprar pigmentos sobre a mão esquerda utilizando
canudinhos de ossos. Como esses povos eram semi-nômades, os estudiosos
acreditam que as mãos impressas eram uma forma de marcar o seu espaço.
Aparentemente, esses povos primitivos seguiam os guanacos que desciam as montanhas
para passar o inverno em um clima mais ameno.
Negativos de mãos |
Além das mãos, existem
alguns desenhos de represntações humanas, cenas de caça, guanacos (inclusive fêmeas grávidas), linhas
em zigue zague e formas geométricas. Mas essas são minorias, a maior quantidade é de mãos mesmo. Como aprendemos na Serra da Capivara, é
difícil entender o motivo dos homens primitivos deixaram esse tipo de registro
e o que eles representam. Mas é interessante perceber que o homem tem a
necessidade de se expressar, na Patagônia ou no interior do Piauí. O homem
primitivo já demonstrava intencionalidade ao deixar sua marca.
O acesso às pinturas é
terrível. De Bajo Caracoles são uns 40 km de rípio ruim. Demoramos bastante
para fazer esse trecho.
De lá, seguimos para
El Chaltén. A cidade cresceu nos últimos 7 anos. Mas as montanhas, ah meu
amigo, essas continuam as mesmas. Temos uma certa sinergia com Chaltén. As duas
vezes que lá estivemos estava um sol de dar gosto. E lindas fotos!
Essas montanhas |
El Chaltén é a cidade
do trekking. O Parque Nacional Los Glaciares tem entrada gratuita aqui e com
isso as trilhas são bem populares. Existem trilhas de vários níveis de
dificuldade. Dessa vez, nós apenas fomos a Laguna Capri admirar o Fitz Roy em
todo seu esplendor. Também caminhamos até um mirante num desvio do caminho. A
caminhada é leve e revigorante. O caminho é maravilhoso e os bosques de lenga
deixam o lugar mais especial ainda. Começamos a caminhar por volta das 11:30 e
com muita calma e descanso, voltamos as 16 horas. Outra coisa ótima dessas
trilhas é que praticamente todas têm inicio e fim na cidade. Isso é muito
prático!
Mirantes na trilha |
Uma dica: antes de se
enfiar nas trilhas, passe na Informação turística e pegue um mapa do parque com
descritivo de trilhas, nível de dificuldade e estimada duração. Leve um
lanchinho energético para aguentar o tranco e aproveite!
O Parque Los Glaciares
inicia sua delimitação aqui e é possível caminhar até um glaciar o Piedras Blancas e
visitar outro, o Viedma, ali perto. O skyline do Fitz Roy é de tirar o fôlego
no final da tarde!
De Chaltén seguimos
para El Calafate, uma cidade com muito mais serviços e charme. Não perca de jeito
nenhum o cordeiro patagônico, é delicioso e super típico! Além de comermos em
restaurantes, nós fizemos uma perna de cordeiro na parrilla que ficou divina! É
muito fácil encontrar cordeiro para comprar por aqui. Bom, a quantidade de
ovelhas é muito maior que a de humanos na região. Tudo porque a patagônia era
um lugar onde se concentravam as fazendas de ovelha principalmente para a lã.
Após a vinda dos exploradores, os colonos se fixaram aqui para trabalhar com
ovelhas, os ovejeros. Vimos vários ovejeros nos seus cavalos, com seus
fiéis cachorros tocando as ovelhinhas de um lado para o outro.
Ovejeros |
Enfim, Calafate é
simpática, agradável para se caminhar e fazer passeios ao ar livre. Contando
que o clima e o vento ajudem, é claro! Mas o objetivo maior de quem vem aqui é
visitar o glaciar Perito Moreno. O impacto ao avistá-lo é o mesmo, pode ser a
primeira ou a décima vez, você vê aquela muralha de gelo e diz: UAU!
Perito Moreno |
O Perito Moreno é um
glaciar que continua crescendo, diferente dos outros glaciares que estão retraindo.
O crescimento dele é avistável: durante o tempo que você estiver nas
passarelas, com certeza irá presenciar enormes blocos de gelo que se desprendem
e caem na água, fazendo um barulhão e criando muitas ondas.
Blocos de gêlo caindo |
Além de passear nas
passarelas, você pode fazer uma navegação pelo lago, chegando mais perto do
glaciar. Chama-se Safári Náutico e vale a pena por ter uma ideia melhor da
grandiosidade dele.
A altura da parede do glaciar é de 40 metros |
Também em El Calafate
visitamos o Centro de Interpretação Histórica que conta aproximadamente 100
milhões de anos de história natural e humana da Patagônia Austral. Engloba
dinossauros, megafauna, arte rupestre, povos originários, greves, glaciares,
ovelhas e sangue. Afinal de contas os nativos que viviam por aqui quase foram
exterminados pelos colonizadores. Os motivos? Germes e armas. Lembra um ótimo
livro, recomendamos para todos os curiosos da história do homem (Guns, germs and steel- Jared Diomand)
Após esse período em
El Calafate, seguimos para o Parque Nacional Torres del Paine, do lado chileno.
Criado em 1959, o parque é o cartão postal do Chile! Inúmeras trilhas percorrem
diferentes paisagens de pampas, bosques magalhânicos, lagoas e glaciares
rodeados de rochas gigantescas de granito que caracterizam a silhueta dos
Cuernos e Torres. Também não foi nossa primeira vez nesse parque e o maciço
Paine segue imponente.
Cuernos del Paine |
Torres del Paine não
tem nada a ver com a cordilheira dos Andes, é uma cadeia de montanhas
independente. Ao avistá-lo de longe tem-se essa impressão: mas que coisa
esquisita!
Skyline envergonhado |
Olhando de perto não
tem como não se encantar com as montanhas enigmáticas, pedaços de granito. A
cada curva da estrada, a silhueta das montanhas se modifica um pouco. Se você
tem mais tempo e disposição, não deixe de fazer o circuito W, são as trilhas
que entram no meio dessas montanhas. A sensação do Mirante do Francês, estar
rodeado de montanhas, é fantástica!
Torres de Paine |
Dessa vez, fizemos um
passeio básico de carro, parando em mirantes e tirando muitas fotos. Diferente
do Fitz Roy, os Cuenos del Paine e sua turma são temperamentais e se escondem
da gente nas nuvens. Pegamos um tempo fechado que as vezes se abria, revelando
nesgas de lindas paisagens.
Rio Paine |
Mesmo com chuva e
vento, arriscamos uma caminhada até a praia Grey para avistar o glaciar e
admirar os lindos e enormes blocos de gelo azuis que se soltam do glaciar e
morrem na praia. Estava muito frio e tivemos que voltar. A caminhada estava
desconfortável.
Glaciar Grey |
Outra pequena
caminhada foi até o Salto Grande, uma cachoeira cor de esmeralda. Aqui o vento
é implacável, ele chega canalizado das montanhas e vem com força total. A
cachoeira é pequena mas tem uma cor e um volume d’água impressionantes!
Com o carro passamos
pelos lagos Sarmiento, Nordernskjold, Pehoé, pelo Rio Paine e ainda, o Lago
Toro onde se encontra a ótima Sede Administrativa com muitas informações
turísticas relevantes, inclusive uma maquete do parque super didática.
Resolvemos dar uma
esticada até Puerto Natales, uma cidade que fica embrenhada no meio de fiordes.
Cheia de restaurantes e com uma orla que acompanha o canal marítimo Señoret, a
cidade é uma boa base para quem visita o parque. Conta com bons hotéis e
restaurantes. E até tem uma réplica dos dedos uruguaios na avenida Costanera.
Que na verdade, são obra do artista chileno Mario Irarrázabal.
Fiorde em Puerto Natales |
Voltando para El
Calafate, passamos na Cueva de Milodón, um sítio arqueológico de valor
científico pois nesse lugar encontraram vestígios do homem primitivo patagônico
em forma de fogueiras e instrumentos. Do milodón mesmo, apenas encontraram sua
pele, mostrando que o homem primitivo conviveu com a megafauna mas foi um dos
determinantes para sua extinção (já que eles comiam esses animais). Enfim, a
cueva é ok, mas tirar a foto com o milodón, uma espécie de preguiça gigante
é um clássico!
Milodon em tamanho real |
Esse trecho foi muito
especial para nós. Relembramos nossa viagem a Patagônia, um lugar muito
especial que tinha dado muita vontade de voltar. Entretanto, muito mais que
isso, fizemos acompanhados com os pais do Mauro, que vieram do Brasil para nos
visitar na estrada. Estávamos com muita saudade e passamos uma semana juntos.
Enfiamos eles na maior ventania mas passamos um ótimo tempo juntos e todos
aproveitamos muito!
Depois de nos
despedirmos no aeroporto de El Calafate, seguimos sul na ruta 40. A viagem
ainda não terminou. Temos que chegar a Ushuaia!
Nas estradas e nos
parques, misturados com os animais de cativeiro ou absolutamente soltos na
natureza, cruzamos com os principais animais selvagens da patagônia:
Guanacos
Os guanacos são mamíferos
da família dos camelídeos e sua domesticação pelos incas deu origem as alpacas
e lhamas. Eles são o orgulho americano já que são o único animal domesticado
das Américas. Os guanacos são simpáticos e curiosos. Vivem em rebanhos grandes,
espalhados por toda a patagônia, mas aparecem em maior quantidade do lado chileno.
O único predador deles é o puma.
Os ñandus ou choiques
são aves que parecem o avestruz e a ema. Eles também andam em grupos e são
muito fáceis de observar nas estradas. Os ñandus fizeram parte da dieta do
homem primitivo patagônico. Uma prova disso é o negativo de uma pata desse
animal na Cueva de las Manos.
Condor
símbolo da América do Sul, vive em montanhas mas também habita a patagônia. É difícil saber se você está vendo um condor ou outra ave. Aqui vão algumas dicas para não confundi-lo com um urubu: ele voa muito alto e geralmente, em círculos; ele tem o pescoço branco e as pontas das asas têm penas abertas. Vimos alguns no chão comendo um animal morto e o tamanho dele é impressionante!
símbolo da América do Sul, vive em montanhas mas também habita a patagônia. É difícil saber se você está vendo um condor ou outra ave. Aqui vão algumas dicas para não confundi-lo com um urubu: ele voa muito alto e geralmente, em círculos; ele tem o pescoço branco e as pontas das asas têm penas abertas. Vimos alguns no chão comendo um animal morto e o tamanho dele é impressionante!