A Venezuela é um destino maravilhoso, com uma natureza exuberante e muito lugar lindo. Minha primeira dica é:
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Salto Kama, na La Gran Sabana |
- não deixe se influenciar pelos alarmistas que só vêem defeitos nesse país. Insegurança, suborno, policiais corruptos, violência. De qual país estamos falando? Do Brasil? Brasileiro parece que esqueceu que uns anos atrás (e ainda hoje) nossa querida pátria mãe gentil já lembrou muito a Venezuela com todos esses problemas. Lógico, tomamos medidas de precaução pois algumas vezes até a própria polícia advertia para estacionarmos sempre em lugares fechados e não andar a noite. Tomar medidas de precaução quanto a segurança já faz parte da nossa rotina dentro do Brasil: cuidar dos pertences, estacionar em lugares movimentados, não deixar objetos de valor a mostra, evitar ruas desertas. Mantenha-se atento e vigilante, sempre.
E quanto aos policiais? É verdade que eles só querem grana?
-não foi essa nossa experiência. Em nenhum momento, ninguém pediu dinheiro para a gente nas inúmeras paradas que tivemos que enfrentar na Venezuela. Existe essa prática? Até deve existir, mas tudo depende da sua postura perante os policias. Ser educado e polido, tratar com respeito a autoridade que está te abordando (chame-o por Usted e o verbo na 3ª pessoa), ter a documentação toda em ordem e tentar “quebrar”o gelo, perguntando sobre a estrada, qual a praia que ele acha mais bonita, falar sobre futebol, enfim, a sua simpatia também ajuda – e muito! No nosso caso, temos um mapa da América enorme no nosso carro, com informações de onde saímos, para onde vamos, com a bandeira do país que estamos colada. Essas coisas facilitaram. Mas vimos grupos de brasileiros fazendo a maior algazarra na aduana, gritando, derrubando água no chão, fazendo fuzuê. Os caras não gostam disso. Seja discreto mas simpático, as chances de alguém tirar dinheiro de você diminuem muito. No nosso caso, até ganhamos uma bala de banana dos guardas.
E o controle na estrada? É verdade que eles param todo mundo?
- sim, é verdade. Com certeza, passamos por mais de uns cinquenta postos de controle e alcabalas. Fomos parados em mais de 20. Existe a polícia municipal, estadual, federal, exército espalhados em todas as estradas, sejam movimentadas ou não, armados de fuzis e outras armas. Cada um solicita uma coisa: documento pessoal, do veículo, pedem para vero que estamos carregando. Alguns, apenas perguntam para onde estamos indo, o que estamos fazendo e o que levamos. Em nenhum momento fizeram vistoria dentro do veículo. Na verdade, muitos policiais são moleques, aparentam menos de 18 anos, são curiosos pelo que estamos fazendo. Mesmo sendo a quarta parada do dia, somos simpáticos. O que existe na Venezuela e é bem latente é a síndrome do pequeno poder: pessoas que usam farda ou trabalham com algum tipo de controle acham que tem mais poder que civis. Por isso, a primeira abordagem deles é meio rude. Aprenda a conviver com isso, que sua estadia será melhor. Geralmente, esses postos de controle e alcabalas são sinalizados. Assim que perceber que vai passar por um, diminua a velocidade e abra os vidros. E novamente, tenha os documentos em dia. Eles conferem os dados.
Como fazer com dinheiro? Dá para trocar real por bolivares fortes?
Na nossa opinião esse é o maior problema que o turista enfrenta na Venezuela. Na maioria dos lugares, é impossível usar cartão de crédito. Também é impossível sacar no banco com o cartão de crédito ou de débito. Dinheiro, só no cacau. Portanto, leve dólares e troque por bolívares. Nossa dica pode não ser a mais segura, mas preferencialmente, troque no cambio negro. O valor que te pagam é o dobro que no cambio oficial. Tomamos uma medida que vimos na internet e que te deixará mais seguro: tiramos cópia das notas de dólar que usamos para evitar que trocassem nosso dinheiro por notas falsas. Fique atento! Outra coisa, procure um lugar seguro para fazer essa transação. Geralmente, pousadas ou agencias de turismo realizam cambio negro. Quanto ao real, em Santa Elena de Uairén, é possível pagar algumas coisas em real e trocar na maior facilidade reais por bolívares fortes. Mas somente lá. Como encontramos um lugar bom para realizar o cambio, trocamos todo o dinheiro que a gente precisava para três semanas e fomos administrando os gastos.
A Venezuela é um país barato?
- depende do cambio que você fizer. Com o oficial, não, é muito caro. No cambio paralelo, fica mais em conta. O mais caro de lá proporcionalmente é a alimentação. O cambio paralelo é ilegal, mas é muito usado principalmente nas cidades de fronteira. Recomendamos algumas precauções: não trocar muito dinheiro logo de cara, troque um valor baixo algumas vezes para sentir confiança no agente; na fronteira com o Brasil, prefira usar Real que dólar; para evitar falsificação quando for trocar dólares, prefira usar notas seriadas e caso não seja possível, faça cópia de suas notas.
- praticamente, de graça. Enchíamos o tanque (80 litros) com R$0,75. Dava gosto ir abastecer o carro. Mas atenção: o combustível é subsidiado pelo governo para os venezuelanos (lógico). Portanto, abastecer na fronteira é missão impossível. Como a relação, Venezuela/Brasil é cordial, na fronteira, existe um posto de combustível onde estrangeiros podem abastecer. Vimos inúmeros carros passando a fronteira só para abastecer, mas o preço é mais caro que dentro da Venezuela, pagamos algo em torno de R$0,20 o litro do diesel. Depois desse posto, não se pode abastecer nos próximos 400 km. O exército se faz presente dentro dos postos e não autoriza. Após essa quilometragem, pode-se abastecer e pagar o preço que o venezuelanos pagam, BSF 0,0045 o litro. Já na fronteira com a Colômbia, não existe posto e os estrangeiros também não podem abastecer nos últimos 300 km. Ah, nem todos os postos tem diesel. Quando o tem, geralmente existe uma placa abaixo da bandeira indicando.
Essa gasolina barata trás o seguinte efeito colateral: muito carro velho nas ruas servindo como lotação. Carro velho e transito desorganizado fazem da vida do motorista um inferno. Paciência e atenção para evitar colisões.
E a questão política no país? Interfere na vida do viajante?
- a Venezuela vive um momento delicado, com uma política social bem complicada. Com tanto petróleo, os outros setores da economia não são estimulados. Praticamente não existem produtos importados e percebemos que existe um problema no abastecimento de alimentos. A vida das pessoas é muito controlada, não só nas estradas como também nos supermercados e farmácias onde é necessário apresentar ou dizer nome completo e RG (no caso de estrangeiro, o passaporte) no momento da compra. Vimos muita pobreza, mas não vimos miséria. Apenas uma cidade que visitamos nos pareceu melhor, Maracaibo. Não fomos para a capital Caracas, por causa do transito, então não podemos falar de lá. Muitas rádios, jornais e TV estatais fazem apologia pró Hugo Chavez. Estivemos durante as prévias da oposição e ficamos sabendo que nas últimas prévias houve retaliação contra os que foram votar, como por exemplo, funcionários públicos foram demitidos de seus empregos. As casas e comércios são todos atrás de grades, não existem barzinhos ao ar livre. Deve ser difícil viver num país nessa situação. Mas para o turista, o que pega mesmo é a questão do dinheiro, a dificuldade de sacar e realizar outras transações financeiras.
O Brasil tem sido bem diplomático nas suas relações internacionais, tem um bom relacionamento com a Venezuela. Lá eles conhecem a Dilma, falam muito sobre o Lula, gostam dos brasileiros e tentam falar português. Apesar de viverem em rixa com os EUA, nas grandes cidades existem cadeias de alimentação fast food como MC Donald’s, Burguer King e até Wendy’s, que não tem no Brasil. O esporte popular não é o futebol e sim o beisebol, jogado em campeonatos e como brincadeira de criança.
A Venezuela foi nosso primeiro destino internacional. Numa viagem como essa, o impacto dessa primeira fronteira pesa, percebemos o quanto estamos longe de casa e de tudo que é mais conhecido. Mas são esses desafios que fazem nossa viagem mais interessante. No próximo post, falaremos sobre a documentação pessoal e do carro e alguns tramites na Venezuela.