sexta-feira, 4 de julho de 2014

O sonho não acabou

Dia 27 de maio completamos aniversário de fim de viagem. Já estamos de volta faz um ano!!!
Não foi um ano fácil esse. Muitas vezes não conseguimos nos reconhecer nas nossas fotos da viagem. O que vivemos nesses 19 meses foi tão intenso que parece fazer parte da história de outras pessoas.
Nesse um ano muitas coisas aconteceram, provavelmente com menos intensidade do que os meses que estivemos na estrada mas não menos importantes.
Uma delas foi a reversão do Jumbo em pick up. Por motivos pessoais, tivemos que desmontar nossa casinha. Antes da reversão, tentamos vender o Jumbo montado, com os acessórios dentro. Acreditávamos que era um desperdício desmonta-lo  pois outros viajantes poderiam aproveitá-lo e serem felizes on the road, como nós fomos. O anunciamos várias vezes mas apesar de termos recebido vários telefonemas infelizmente, a venda não se concretizou.
Muito prazer Munk!

Então, durante o feriado de 1º de maio, organizamos tudo e desmontamos o carro. Dessa vez, tudo foi muito rápido, comparando com a construção dele. Alugamos um munk (uma espécie de guindaste) para retirar a casinha e colocar numa estrutura que o Mauro construiu, com solda e suor. Nessa operação, colocamos de volta a caçamba e voltamos a ter uma pick up. A casinha será desmontada aos poucos e tentaremos vender tudo que for possível on line (no caso dos acessórios que adquirimos como a geladeira e o porta potti) ou em ferros velho (chapas de alumínio e barras de ferro).
Passa-se as fitas e suspende. Segura o fôlego!

Só o cavalo da Hilux

Suspendendo a caçamba

Precisão

Ressurge a pickup

Claro que ficamos muito sensibilizados em ter que desmontar nosso companheiro de viagem. O Jumbo foi muito mais que um carro. Ele era considerado o terceiro membro da nossa aventura e muitas vezes a preocupação com a saúde dele era maior do que com a nossa. Não temos do que nos queixar sobre ele. A parte mecânica do carro não deu problema. Trocamos uma peça por causa da condição das estradas bolivianas. A parte que foi construída pelo Mauro, nossa casinha, foi sofrendo algumas melhorias no caminho e também não temos do que nos queixar. Cumpriu sua função e conseguimos dormir dentro dos nossos 5 m² em mais de 50% do tempo. Só isso fez valer a pena o tempo e esforço empregado na construção. Por sinal, ao fazer a pesquisa nos posts antigos sobre a criação do Jumbo, impossível não se emocionar e pensar " Não é que deu certo?". Apesar do Mauro ser engenheiro, essa ousadia de construir o próprio carro com as próprias mãos e sair pelo mundo é extraordinária. Que experiência!
Desde que voltamos, rodamos com o Jumbo em poucas ocasiões e percebemos que ele não tinha nascido para ficar numa garagem. Ele foi feito para rodar. Principalmente após de tantos mil quilômetros rodados (foram quase 100.000!) em pouco tempo. Portanto, com o coração na mão, o desmontamos  e pusemos um ponto final no Projeto Anima, travessia das Américas.
Claro, as histórias desses dias, a experiência adquirida, tudo isso fica com a gente. E um pouquinho com você que acompanhou essa aventura!
Um último selfie dos membros da equipe

Um grande abraço e safe travels!!!
Marina e Mauro

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Feliz Ano Velho

Chega ao fim 2013. O que nos espera o ano que vem?
No final do ano passado, nós não sabíamos como o nosso ano ia terminar. Passamos o Natal de 2012 na Colômbia, o Ano Novo vivenciando novos costumes no Equador. Chegamos em Santos no final de maio desse ano e vamos passar o reveillon aqui, pulando ondas vestidos de branco.
Não só tivemos um ótimo 2013 como  tivemos um ótimo período de sabático. Tudo deu muito certo.
Temos muito que agradecer o ano que passou. Fomos abençoados. Não pediremos nada para o ano que se aproxima. Que as energias positivas na chegada desse ano façam as coisas acontecerem prá gente e prá todas as pessoas.

Que venha 2014! Estamos com a alma de ano novo faz tempo...

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A volta prá casa!

Depois de um longo silêncio, voltamos a escrever no nosso blog. Dessa vez para contar de uma antiga conhecida, nossa cidade natal, Santos.
Santos não é a cidade mais bonita do mundo, nem da América. Mas é a cidade onde nascemos e crescemos e estávamos ansiosos por reencontrar nossa cidade, nossa família e nossos amigos.
Santos

Nós decidimos chegar pela BR 116, ao invés de descermos a Serra do Mar pela Anchieta/Imigrantes pois queríamos adiar o aborrecimento que são os congestionamentos nessas estradas. Fomos chegando de mansinho, passando por Praia Grande, São Vicente (passamos pela Ponte Pênsil) e finalmente, Santos! Nós moramos perto do canal 2 mas decidimos percorrer a orla um pouquinho mais e sentir nossa cidade!
Da janela do Jumbo, uma orla bem conhecida!

Nossa casa estava igualzinha! Mérito para nossa família e nossa faxineira que deixaram tudo nos trinques para nossa chegada! Ficamos emocionados ao ver nosso espaço novamente... Quanto espaço! Quanta coisa! Quanta roupa!!! Meu Deus, durante 19 meses vivemos intensamente com tão pouco, agora um apartamento com uma porção de coisas pouco utilizadas, deu um nó na gente.
Encontramos nossos familiares aos poucos. E no dia 31 de maio, aniversário da Marina, reunimos todo mundo aqui em casa para celebrar. Foi muito, muito bom!!!
Viva! Sobrinhos!!!

Família encontrada, vamos a parte prática (e chata) da volta ao lar. A primeira providência foi arranjar uma internet pra nossa casa e um número de celular. Nesse tempo todo fora, usamos apenas wi-fi nos campings, postos de gasolina, mc donald´s... Sabe aquela propaganda de wi-fi (veja aqui) que vem sendo veiculada na TV? Sim, ela é baseada em fatos reais e nós fazíamos exatamente a mesma coisa que os protagonistas. A internet chegou em casa após uma semana apenas, o que deixou a gente maluco atrás de um sinal aberto. Do tipo caminhando pelo estacionamento com o tablet atrás de uma rede.
O celular foi outra providência importante. Legal, nós chegamos mas estamos incomunicáveis. Não rola. Tivemos que resolver isso logo de primeira.
Outra coisa que nos encontrou logo de cara foi a famosa reunião de condomínio onde um dos assuntos era os riscos do Jumbo estacionado no prédio. Comparecemos mas foi um rolo só. Queriam nos proibir de estacionar o Jumbo lá. Mas principalmente porque na ata apareceram itens que não foram discutidos no dia da reunião sobre a necessidade da apresentação de inúmeros laudos que comprovassem que o Jumbo era um veículo seguro (do tipo que ele não vai explodir ou afundar o chão do edifício). Nós passamos por 18 países e em nenhum aconteceu nada parecido. Nem nas fronteiras mais chatas. Justamente onde a gente mora, houve esse tipo de problema. Parece piada, mas é a realidade. Foi pra esse tipo de coisa que voltamos...
Jumbo e seus amiguinhos de viagem, sem nenhum stress

Também logo começaram o sobe e desce prá São Paulo. Perdi as contas de quantas vezes usamos a Anchieta e a Imigrantes desde que voltamos. E também perdi as contas de quantos comboios e estrada parada pegamos. Isso que não estamos na época da safra de soja, quando a estrada pára mesmo. Juro, não sabemos o que será no ano que vem. O Mauro fica inconformado, “Dirigi 100 mil quilômetros mas nada se compara a chatice desse anda e pára da Imigrantes”.
Anchieta: mais que o dobro do tempo para chegar a Santos

Quanto a vida social, também vivemos momentos de estresse. Logo no começo, a Marina desenvolveu uma certa “fobia social”. Não conseguia ficar em grupos maiores de cinco pessoas (tirando a família próxima). Todo mundo chegava perguntando da viagem e ela não gostava de ser o centro das atenções. Mesmo porque como resumir num reencontro rápido entre conhecidos a experiência absolutamente única de se viver por 19 meses na estrada? Por onde começar? Ainda hoje existe certo pânico quando as perguntas começam.
Outro problema são os eventos. Eventos e mais eventos. Churrascada, almoço, pizzada, feijoada, aniversários, etc, etc, etc.... Chegamos e fomos anotando num quadro todos os
compromissos sociais que a gente tinha. Sim, a gente estava com saudades de todos, queríamos  reencontrar todo mundo mas passamos esse tempo alheios a certas convenções sociais. Éramos dois apenas. E nos acostumamos de tal forma um com o outro que nos
Jantar Brasil/Coreia
bastávamos. Momentos deliciosos de ... silêncio!!! Ah, mas na viagem vocês não fizeram amigos? Sim, uma porção! Inesquecíveis todos eles! Mas era tudo mais simples, combinar um jantar era no mesmo dia, quando não na mesma hora. A preparação da comida era com o que a gente tinha na despensa ou geladeira. E se não desse certo, paciência. E roupa, nem se fala! A gente não se preocupava em como estávamos vestidos. Se todos estivessem de banho tomado já estava de bom tamanho. O papo era a estrada, o país de origem, que filme baixar na internet, nossas dificuldades ou coisas imperdíveis para fazer em determinados locais. Jamais sobre a secretaria de educação, dias letivos, o cabeleireiro, a unha, o time de futebol. Jamais!!!

Santos está igual e diferente (ou diferente estamos nós??). A cidade parece ter uma orla mais apertada, o mar parece mais escuro do que nossa lembrança. Além disso tem muito mais trânsito, muito mais prédio além de inúmeras temakerias abertas. Sim, ficamos surpresos com essa moda de temakerias em Santos.


Mas escrevi, escrevi e não contei nada sobre Santos. Injusto. Nossa cidade merece um post especial, com atrativos e tudo mais que tem direito. Fica pro próximo!

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Foz do Iguaçu e a volta pra casa!

Após nossa passada pelas Missões Jesuíticas Guaranis, seguimos em direção as Cataratas do Iguaçu. Quem nunca teve a oportunidade de visitar essa maravilha da natureza, precisa incluir uma viagem urgente a Foz. A sequência de cachoeiras e seu volume d´água são impactantes.

As quedas de Iguaçu
Vimos muitas cachoeiras durante a viagem e temos um carinho especial por todas elas, mas Foz é demais! Você não se cansa de olhar e tentar contar quantas cachoeiras enxerga. Poderíamos inventar uma palavra para coletivo de cachoeiras, só para usar nesse caso.
O número de quedas d’água pode variar de 150 à 270 de acordo com a estação seca ou chuvosa. O volume de água é tão absurdo que chega a dar a falsa ilusão que essas campanhas de economia de água são balelas.  

Muita água!
Essa belezura da natureza se encontra na fronteira entre Argentina e Brasil. Cada país tem seu parque nacional, do lado argentino chama-se Parque Nacional Iguazú e no Brasil, Parque Nacional Iguaçu. Apesar da diferença de uma letra, o ideal é realizar os dois lados mesmo. Isso porque do lado argentino chega-se mais perto das quedas d’água (quem já se enfiou no meio da Garganta do Diabo entende o  que estou dizendo) enquanto do brasileiro, a visão é panorâmica, mais de longe.
O circulo marca onde está o bote do Macuco Safari
Mesmo sendo panorâmica, o mais indicado é ir com uma capa de chuva, pois em alguns pontos você se molha bastante. Principalmente para quem quiser se aventurar até o Mirante da Garganta, local com muito respingo. Fizemos essa atração sem a capa com plena consciência de que ficaríamos molhados. Dito e feito: ficamos molhados e depois gelados mas faríamos novamente. Essa respingada do Iguaçu é energizante!
E não se engane que esse é um passeio de pouca adrenalina. Quem quiser um pouco mais de aventura, tem o Macuco Safari a disposição. Esse serviço tem um custo adicional mas recomendamos pois é super divertido. Chegar pertinho das quedas é emocionante e saiba que você vai se molhar muito, mas muito mais do que imaginava ou que uma capinha de chuva pode aguentar. Diversão garantida ou pode reclamar com a gente ;)
Passarela do Mirante do Diabo
Duas são as cidades base: Puerto Iguazú (Argentina) e Foz do Iguaçu (Brasil). A cidade brasileira é mais bonita e conta com mais serviços. Além disso, todos os campings do lado argentino estavam fechados. Enquanto no Brasil ficamos num dos melhores campings da viagem – o Paudimar.
Mesmo com esse movimento turístico intenso, existem procedimentos de fronteira entre os dois países. Saimos da Argentina com o RG e apenas apresentamos o documento do carro. Foi nossa último trâmite internacional desta travessia das Américas. Estamos de volta, Brasil! Nem dá prá acreditar, após mais de 20 procedimentos de fronteira, para nós e para o carro! Quanta burocracia enfrentamos!!! Nossa dica nesse caso é abastecer o carro na Argentina, o combustível é bem mais barato não importa o câmbio que faça.

A última fronteira!
Foz do Iguaçu é uma antiga conhecida. Dessa vez nos limitamos as passarelas do lado brasileiro. Nada de Macuco, nem de lado argentino. Bom, até que tentamos visitar o parque Iguazu mas esbarramos numa funcionária tão orgulhosa que demos meia volta e fomos para nosso país. Olha seguramos bem a onda com relação ao orgulho de nossos vizinhos mas essa última não deu prá engolir. Do ladinho da fronteira e já tendo visitado o parque, nos demos ao luxo de dizer que íamos voltar pro nosso país e eles que ficassem na Argentina.  Em um dos dias fomos até o Paraguai comprar dois novos sapatinhos pro Jumbo. Todos falaram que os pneus eram muito baratos e como estávamos com os pneus traseiros com outro tamanho do dianteiro, decidimos fazer isso nesse país. Como compramos pneus originais, o preço não foi tudo isso. O que vimos nessas poucas horas foi um armamento intensivo em todas as lojas . Seguranças com escopetas nos deixaram desconfortáveis. Nos explicaram que essas armas são para proteger os turistas que vem até ali comprar. Ainda assim, achamos muito estranho, coisa igual só vimos parecido em Honduras.
Ciudad del Leste
Para ir até Ciudad del Este, não precisamos fazer imigração, seguro ou qualquer outro procedimento para o carro. Agora, se pretende sair por outra fronteira, o ideal é realizar todos os procedimentos direitinho para evitar problemas.
De Foz, seguimos para Cornélio Procópio, cidade de queridos amigos que nos recepcionaram com muito amor e alegria. Foi em Cornélio que percebemos que nossa travessia das Américas chegava ao fim.
Amigos e afilhados!
Seguimos para Santos mas decidimos pegar o caminho mais longo, pela BR116, evitando descer a Serra do Mar e passar por São Paulo. Dias antes ouvimos falar de um congestionamento de 46 kms na estrada que liga São Paulo a Santos, a Anchieta. Sabendo que a distância Santos/São Paulo é de 60 quilômetros significava mais da metade da estrada parada. Esse tipo de notícia entristeceu um pouco nossa volta. Afinal de contas, estamos voltando para essa realidade.


Essa é a Ponte Pênsil de São Vicente. Quanto tempo!



Orla de Santos







segunda-feira, 1 de julho de 2013

Missões Jesuíticas Guaranis: Brasil e Argentina

As missões formadas pelos padres jesuítas fazem parte de uma história desconhecida para nós brasileiros. Não aprendemos muita coisa sobre esse movimento sócio-educativo-religioso que aconteceu no coração da Cuenca del Plata, uma área fértil nos territórios do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
São Miguel Arcanjo, no Brasil

Foram 30 reduções de índios guaranis integradas que formaram as Provincia Jesuítica de Misiones. Dessas, sete ficam em território brasileiro, 15 na Argentina e oito no Paraguai. Lembrando que no tempo das missões, o território desses países ainda não tinha sido delimitado pelo Tratado de Madrid e as fronteiras dos países que hoje possuem essas ruínas ainda não estavam definidas. Todo esse território estava sob domínio espanhol.
Os jesuítas tinham como principal objetivo no Novo Mundo a difusão da fé católica. Preocupados com a expansão do protestantismo, a Igreja Católica resolveu enviar para a América os padres jesuítas, incumbidos de convocar mais almas para o reino de Deus e assim, continuar maior em número de fiéis em relação a essa nova religião que crescia.
Os missionários que vinham para cá passavam por um alistamento parecido com os militares de hoje: deveriam se adaptar a qualquer ambiente do planeta e eram vetados caso apresentassem alguma limitação física. Diferente de outras ordens religiosas, os jesuítas eram o que chamamos de PPTO (pau prá toda obra). Visitando as ruínas das antigas reduções fica claro que os religiosos eram multiuso: entendiam de construção, de domesticação de plantas, de aproveitamento de recursos hídricos, de arte, de música, de ensino entre outras habilidades e junto aos índios guaranis, organizaram cidades que somadas ultrapassavam os 140 mil habitantes ao final de 150 anos de evangelização. Essa população era maior do que a de Buenos Aires na mesma época, por exemplo.
Mapa das missões
As missões estavam em pleno florescimento econômico e cultural quando o Tratado de Madrid estabeleceu novas fronteiras entre Portugal e Espanha, representadas hoje por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Portugal trocou Colonia del Sacramento – hoje Uruguai, pelas terras ao leste do rio Uruguai - hoje Rio Grande do Sul. Nessa troca, as sete missões localizadas nesse território passaram a fazer parte da colônia portuguesa.
Com isso, os guaranis se revoltaram porque estavam estabelecidos em tais missões há anos e estas estavam prósperas e organizadas. Não queriam sair desse território nem ficar sob o domínio dos portugueses. Além do mais, os bandeirantes continuavam capturando guaranis para o trabalho escravo e essa mão de obra gratuita e especializada seria uma ótima aquisição para as fazendas de café. Por sua vez, os jesuítas foram acusados de apoiá-los e dessa forma, uma agressiva campanha foi montada contra as missões. A Guerra Guaranítica estava armada.
A pior batalha aconteceu em 1756 em território hoje brasileiro onde 1500 indígenas foram massacrados em pouco mais de uma hora pelas tropas espanholas e portuguesas. Tal batalha recebeu o nome de Batalha de Caiboaté. Houve outras batalhas todas ganhas pelos europeus e esse foi o início do fim das missões.

As ruínas e o que visitar
Acima, pusemos um pequeno histórico do que foram as reduções na América, coisas que descobrimos nas visitas aos sítios arqueológicos. Demos uma resumida para não ficar muito chato mas acreditamos que é super importante saber o que aconteceu na nossa terra já que os jesuítas ajudaram a construir a identidade do povo brasileiro.
Nós conhecemos cinco reduções: no Brasil, São João e São Miguel e na Argentina, Santa Ana, Nuestra Señora de Loreto e San Ignacio Mini. Não fizemos Trinidad no Paraguai mas as recomendações de lá são muito boas.
Traçado das reduções
A urbanização das missões é praticamente a mesma. Cidades planejadas a partir de uma cruz que marcava o centro da missão e da praça. Em uma das laterais, sobressaia a Igreja junto com a casa dos padres, colégio e oficina de um lado e do outro o cemitério e o coti guaçu (casa das viúvas e órfãos). Ainda em volta da praça se encontrava a prefeitura, as casas dos indígenas e as terras para cultivo particular e coletivo. Atrás da Igreja havia a horta dos padres, onde eles cultivavam suas hortaliças e faziam aclimatações de plantas europeias ao Brasil.
O trabalho era dividido dessa forma: os homens faziam o trabalho rural, de carpintaria e de ferreria. As mulheres eram responsáveis pelos trabalhos domésticos, pelo cuidado com as crianças, cozinhavam e teciam. Os meninos iam para escola onde aprendiam com os missionários as primeiras letras e outros conteúdos escolares. Todos participavam de trabalhos artísticos e religiosos.
Rua larga entre as casas dos indígenas

Para manter a coesão popular, os jesuítas respeitaram o poder do cacique e aplicaram um rigoroso sistema produtivo. Cai por terra quem pensava que eram unidades comunistas; as reduções foram uma nova forma social mas com hierarquias bem definidas. 
As missões que visitamos no Brasil ficam em fácil acesso a partir da RS 285. Existem placas informativas na estrada. São João tem mais informações escritas do que ruínas. Poucas coisas restaram em pé. Foi um bom começo, nela pudemos entender a organização física da missão, que se repetiria em todas as outras visitadas. Nessa a entrada é gratuita e algumas placas informam o que você está vendo.
São João Batista 

São Miguel das Missões é a melhor preservada das reduções no Brasil. Descobrimos em outra visita que a igreja de São Miguel não precisou ser reerguida pois como essa é uma redução jovem, a técnica empregada na construção foi mais moderna.  São Miguel é impactante e muito linda ao entardecer. Como ponto negativo ficam as placas informativas, quase todas apagadas e pouco legíveis. Por ser a missão mais visitada no Brasil, deveria estar melhor conservada. Nas noites sem chuva ocorre o Espetáculo de Som e Luz, uma apresentação da Batalha de Caiobaté poetizada. Achamos poético demais e informativo de menos, saímos cheios de dúvidas da apresentação, sanadas com muita pesquisa na internet e nas visitas as ruínas da Argentina.
Espetáculo de Som e Luz

Em São Miguel existe ainda um pequeno museu com lindas obras barrocas guaranis, confeccionadas pelos indígenas através da supervisão dos religiosos. As obras são todas sacras.
Arte barroco guarani

Do lado argentino, a primeira missão visitada foi a de Santa Ana. Acompanhados de guia, tivemos uma explicação bárbara sobre a vida nas reduções. Foi uma verdadeira aula de história! O sítio está bem conservado e tem como destaque não ter sido reconstruído, mantendo características originais. O lugar ganha vida com o guia que pontua detalhes que passariam despercebidos por olhos leigos.
Repare no espaço  deixado pelas vigas de madeira do telhado

Depois seguimos para as ruínas de Nuestra Señora de Loreto que tem como destaque os banheiros (latrinas) encontrados apenas nesse sítio. Não se sabe se não existiam banheiros em outros sítios. Chovia muito e limitamos nossa visita às latrinas mesmo. 
Latrinas

As últimas ruínas que visitamos foram as de San Ignacio Mini, as mais famosas de todas as reduções jesuíticas guaranis. San Ignacio foi totalmente reconstruída, reerguida e com isso, perderam-se algumas características da época. Mesmo assim, esse sítio justifica ser o mais famoso do pedaço pois a sensação da dimensão das reduções é muito maior nesse lugar. Muitas placas informativas – em várias línguas- ajudam a compreensão.
Igreja de San Ignacio Mini

O museu é bárbaro, com muitas informações e obras desse período. Esse foi o lugar onde conseguimos fechar nosso conhecimento sobre as missões.

Dicas Anima:
- separe dois dias para fazer esse roteiro. Se incluir o Paraguai, reserve mais um dia.
- faria novamente todas as reduções que fizemos, uma complementou a outra.
- no Brasil, é possível pernoitar em São Miguel das Missões. A cidade é pequena mas oferece algumas acomodações e restaurantes. Nós optamos por um camping selvagem no estacionamento da redução.  Do lado Argentino, passamos uma noite em Posadas (essa é a cidade-base para se conhecer Trinidad no Paraguai), num hotel, e em San Ignacio, num camping na rodovia.
- dá prá incluir uma visita às reduções da Argentina numa viagem a Foz do Iguaçu. Fica um pouco corrido para fazer em um dia mas é bem possível.
- Posadas é uma cidade simpática, principalmente a região beira rio. Tem bons restaurantes e bares com vista para o Paraguai, que está na margem oposta.
- em São Miguel pagamos R$ 5,00 por pessoa pela entrada e mais R$ 5 para o espetáculo de luz. Na Argentina, compra-se um ticket na primeira redução que vale por alguns dias para as quatro missões abertas para visitação nesse país – San Ignacio Mini, Santa Ana, Loreto e Santa Maria La Mayor. Pagamos AR$ 40 por pessoa (preço especial para residentes da América Latina).
San Ignacio, Argentina
- ainda existe o espetáculo sombra e luz em San Ignacio Mini que aparentemente é melhor do que o brasileiro. Perdemos, pois quando chove o espetáculo é cancelado.
- o turista que visita o lado brasileiro é na sua maioria escolar do Rio Grande do Sul. Acreditamos que acontece isso por alguns motivos. Além da pouca divulgação, nossos sítios não possuem informações em outras línguas e esse tipo de visita é mais cultural que visual, precisa ter informação escrita para ser completo. Do lado argentino, muita diferença. Tem uma estrutura melhor para o visitante, com placas em outras línguas, folders entre outros. 
- a fronteira entre Brasil e Argentina foi tranquila, usamos a identidade e apresentamos o documento do carro e a carta verde na fronteira. Não esperávamos o valor do pedágio para cruzar o rio Uruguai, AR$ 120. Esse valor poderia ser pago em reais também. Cruzamos de São Borja (BR) para San Tome (AR).
Arte para aproximar os guaranis
- para gente, conhecer esse pedaço da história do Brasil foi uma grata surpresa. Ficamos admirados com a versatilidade dos jesuítas. A estratégia deles para propagar o catolicismo foi simples: mantiveram algumas características da cultura indígena, aprenderam sua língua e utilizaram a arte como elemento evangelizador. Além disso, a fé católica tem várias similaridades com as crenças guaranis – o monoteísmo é a principal delas e os jesuítas souberam usar isso ao seu favor. Mas as missões não foram apenas centros religiosos. Também promoveram uma nova organização do trabalho e se converteram em verdadeiras unidades de produção. Os missionários também são responsáveis pela domesticação da erva mate, amplamente cultivada e consumida na Bacia do Prata.  A importância das reduções para o Brasil é muito maior do que as placas apagadas de São Miguel tentam esconder.
- Você assistiu um fime chamado "As missões" com o Robert de Niro e Jeremy Irons? Não perca seu tempo. O filme possui erros históricos gigantes e além de tudo é chato. 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Brasil!

Nem deu para esquentar nossa chegada no Brasil. Sim, estávamos morrendo de saudades da pátria mãe mas nossos planos mudaram no decorrer da viagem e entramos no Brasil para logo depois sair para a Argentina na região das misiones.
Entramos por Chuí, a cidade mais sul do Brasil! Lembrando que saímos por Pacaraima em Roraima, a cidade mais ao norte do Brasil! Ficamos longe da nossa terra durante 16 meses. Nunca havíamos ficado tanto tempo fora do Brasil.
A fronteira foi tranquila, apenas entregamos os papéis na saída de Chuy (Uruguai). Com relação ao carro, não foi necessário fazer nada, já que estamos no Mercosul. Chegando ao Brasil foi engraçado, porque queríamos que dessem nossa entrada. Acostumamos assim, após cruzar mais de 20 fronteiras diferentes. E também queríamos a marquinha de que estávamos de volta. Mas descobrimos que brasileiros não precisam dar entrada em seu próprio país!
Iupi
Beleza, na nossa terra, falando uma língua que dominamos 100% do tempo, ainda desacostumados com as sinalizações escritas em português, precisando fazer um esforço cerebral para ler as placas. Como se o cérebro nos dissesse: não pode ser tão fácil assim a compreensão, deve ter uma pegadinha...
Depois de oito meses em países que falam espanhol, mais um bom tempo de inglês que não foi abandonado após a saída dos EUA (continuávamos falando para nos comunicar com outros viajantes), só voltando a falar sua língua com fluidez para perceber como a gente se esforçava para falar, ler e pensar em outras línguas! Com mais facilidade, menos, com algumas confusões, até que lidamos bem com a comunicação durante a viagem.
Igreja em Porto Alegre
Percebemos como falar outra língua é fundamental, principalmente para quem está viajando. Se fazer entender e entender os outros evita muitos problemas. Fora que aproxima as pessoas.  A gente sempre se esforçou para se fazer entender na língua do país. E até forçávamos a barra muitas vezes, em alguns países latinos que viam que a gente era estrangeiro e começavam a falar inglês com a gente (talvez pra treinar o ingles deles, sei lá), a gente respondendo em espanhol, e o povo falando em inglês e a gente em espanhol. Muitas vezes a gente parava com isso e falava pra pessoa: “melhor falar comigo em espanhol, não entendemos nada de inglês. E por que você está falando inglês, aqui no seu país não é o espanhol a língua oficial?” Isso aconteceu várias vezes pela América latina. Em dias sem paciência, pedíamos para falar em português. Principalmente em quiosques de informação turística. O cara dá um folder em inglês e a gente: português por favor! Ihhh, não temos! Serve espanhol? Por supuesto!
Outras vezes, a gente fingia que não entendia espanhol, principalmente com algum policial que tinha o jeito da implicância, em fronteiras... A gente dava uma enrolada, falava que não entendia. Ouvimos de viajantes mais experientes que usavam o mesmo truque que a gente que pediam até para o cara escrever. Compromete muito principalmente se o cara tá pedindo dinheiro indevido.
Em outras situações, a gente não entendia de verdade o que as pessoas diziam. Mas tudo bem também, a gente sempre se virou. Não passamos fome, nem frio, encontramos caminhos e sabíamos os preços das coisas. E ainda conseguimos dar nossa opinião e reclamar quando necessário. Até xingar de vez em quando...
Claro que fomos aprimorando no decorrer da viagem. Pegando algumas nuances das línguas. Mas voltando ao Brasil, o português parecia música de anjos para nossos ouvidos. Nos divertíamos com peculiaridades da nossa língua. Chegando a Porto Alegre, tivemos que comprar um cartão telefônico. Na loja onde compramos a moça com simpatia nos explicou: “Mas se for ligar pra celular, não espicha, senão ele come rapidinho!”. Saímos rindo da loja, gringo jamais pegaria o sentido dessa frase. Com a gente, fora do Brasil, muita coisa assim deve ter passado!
Ouvir essa frase ajudou a nos tocar, sim, estamos de volta! Prá uma realidade conhecida e confortável. Isso é bom de sentir após muito tempo fora de casa.
Outra coisa foi a natureza que encontramos logo perto da fronteira. Na margem da estrada, passando pela tripinha que liga Chuí a Pelotas, vimos maior diversidade de animais num pequeno espaço do que em toda Costa Rica. Lógico, na Costa Rica eu não me embrenhei na floresta atrás das minúsculas pererecas. Mas comparando com outras estradas, vimos jacarés e capivaras, dezenas deles convivendo pacificamente com uma quantidade enorme de aves. Da janela do carro. Encantador.
A passagem por PoA foi rápida. Encontramos um amigo do Mauro no trabalho e conhecemos pessoalmente novos amigos que contatamos pela internet. Diana e Fabiano também são viajantes, campistas de carteirinha. Eles têm um ótimo blog com a relação de campings onde ficaram não só no Brasil, como na América do Sul e Europa. Nos receberam em sua casa para um jantar e conversa. Foi ótimo!
Gurizada boa essa
De Porto Alegre tenho pouca informação. Bom mesmo foi voltar a comer por quilo, um monte de salada, comida fresquinha e saborosa. Perguntar e entender  a resposta sobre qual ônibus tomar. E também, ficar com receio de estar de relógio na rua. E reclamar um monte dos pedágios no Brasil. Que coisa de louco, muitos e caros!
Muito prazer, Brasil!

Seguimos para a região das missões. E lá encontramos uma história que desconhecíamos. Como estrangeiros no próprio território. Sobre isso, no próximo post!

terça-feira, 18 de junho de 2013

Uruguai



Esse pequeno país que perde de território apenas para o Suriname na América do Sul, tem como principais manifestações culturais traços de Argentina e Brasil: o tango e o carnaval.   Mas diferentemente de seus conhecidos vizinhos, o uruguaio é um povo pacato. Esqueça a agitação de Buenos Aires ou o nervosismo de São Paulo. Montevideo, a capital, tem vida tranquila. Com apenas 1 milhão e 300 mil habitantes (a metade da população do país), prédios que remetem a uma época anterior, a cidade é grande o suficiente para ser visitada em um final de semana.

Sem o charme dos cafés portenhos e a praticidade das padarias brasileiras, Montevideo tem ritmo lento quando se trata de comer fora. Fomos a um bom restaurante.  Mas comemos supreendentemente bem nos carrinhos de lanches de rua. Não perca o chivito (uma espécie de x-tudo) e recomendamos também o suculento pancho com panceta, cachorro quente com bacon embrulhado na salsicha. O forte deles é o lanche de rua!
A melhor carne da vida


Para carnes existe o tradicional Mercado del Puerto na Ciudad Vieja, cheio de casas que fazem parrillas. Peça a pulpa (costela) ou fique no ancho (que corresponde ao ojo de bife argentino). O jeito do churrasco deles é diferente do nosso e do argentino. Eles utilizam a brasa da madeira e não o fogo. Misturando a técnica uruguaia com a brasileira, conseguimos comer a melhor carne da nossa vida: feita pelo Mauro num camping, um ojo de bife de bois uruguaios. Super bem acompanhado da excelente cerveja mexicana Negra Modelo.
Mercado do Porto

Ainda na Ciudad Vieja visitamos o bom Museo de Arte Precolombino Indígena que se localiza num edifício do séc. XIX. Nele encontramos um acervo com peças que pertenceram a diferentes culturas dos povos pré-colombianos na América Latina. As informações escritas estão ótimas.

A avenida 18 de julho vale ser percorrida a pé para se admirar bonitas construções como o Palacio Salvo e o Teatro Solis.
Palacio Salvo

Ainda na 18 de julho, não perca uma visita ao Mirante Panorâmico da Intendência de Montevideo. A entrada é gratuita e do 25 andar tem-se uma vista de toda a cidade com painéis ilustrativos auto explicativos. Lembre-se de retirar as entradas antes de subir no edifício no módulo de Informação turísitica localizado na Praça Libertad.

Domingo é dia de feira na rua Tristán Narvaja. Aqui você encontra de tudo: desde legumes e frutas a antiguidades. A feira é enorme, abraça várias ruas adentro e quanto mais afastado da 18 de julho, mais peculiar fica. Lá você encontra tudo que é coisa e os objetos estão agrupados sem ordem. Você pode encontrar lado a lado pelúcias velhas assim como ferramentas ou móveis. Até vidro de perfume vazio tem! Para quem quer montar negócio com objetos vintage, é o lugar certo de se ir!

Como ficamos num hostel em Punta Carretas, frequentamos bastante o shopping de mesmo nome principalmente para passear.  A região de agito fica ali próximo, no bairro de Pocitos.


Feira de domingo: muita quinquilharia


Bom lembrar que Montevideo é banhada pelo rio da Prata, apesar de parecer um grande mar. Para uma bela vista do skyline da cidade, vá à península que forma em Punta Carretas e pare perto do farol. Foi aqui que dormimos nossa primeira noite em Montevideo, numa área já conhecida por overlanders.
Skyline do farol


Montevideo não foi nosso primeiro destino no Uruguai. Saímos de Buenos Aires com o buquebus e chegamos em Colônia do Sacramento em uma hora.

Colônia é bonita, uma cidade colonizada por portugueses. Por isso tantos azulejos. As ruas de pedra lembram Parati.
Casa em Colonia do Sacramento


Tem muitos restaurantes e cafés movimentados durante o dia pois muita gente faz bate e volta a partir de Buenos Aires. Demos azar e pegamos uma tempestade fortíssima nos dois dias que ali ficamos.
Colônia


No caminho para o Brasil, paramos em Punta del Leste. Nossa expectativa para essa cidade estava alta e qual não foi nossa decepção quando lá chegamos e encontramos uma cidade fantasma.


O agito de Punta fica no verão. São três meses de vida e depois, muitos estabelecimentos fecham suas portas. Inclusive o Mc Donald´s da av. Gorlero estava fechado. Os apartamentos são de temporada e vimos prédios e mais prédios totalmente apagados. Um desperdício de espaço e recursos.

A cidade é bonita, fica no local onde o rio da Prata encontra o mar e é banhada pelos dois. A orla é bem cuidada, com algumas esculturas interessantes como das sereias e a mão.
Solta o nosso Jumbo


O entardecer é especialmente bonito apreciado de Punta Ballena onde também se localiza o Museo Taller Casapueblo de Carlos Paéz Vilaró. Visitamos por indicação de todos que visitaram Punta  mas recomendamos com moderação; apesar da entrada bem paga, o local é mais um espaço comercial do que um museu. A construção toda em barro pintada de branco com vista para o mar é o destaque.
Casapueblo


Foi uma passada rápida pelo Uruguai. E tivemos a sorte de poder assistir um concerto com o melhor violinista da atualidade: Itzak Perlman. Saimos enlevados com suas notas. Só por isso, o Uruguai já valeu a pena!
Na expectativa do concerto

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