Achamos que
a cota de belezas da Bolivia havia se esgotado no salar. Ainda bem que
estávamos enganados. A inacessibilidade do sudoeste boliviano preserva suas
paisagens deslumbrantes e a rica fauna selvagem e acabou ocupando o segundo
lugar nos top Anima da viagem.
Nosso
roteiro foi de Uyuni até San Pedro do Atacama, no Chile. Nesse trecho passamos
quatro inesquecíveis dias de silêncio, frio e belezas que tínhamos
experimentado apenas no Alaska.
Saímos à
tarde de Uyuni, logo depois de fazermos a excursão do Salar de Uyuni. Essa
primeira noite, passamos num lindo mirante na estrada.
Vista do mirante hospedagem |
Na manhã
seguinte, saímos cedinho para tentar encontrar os grupos de excursão na Vila
Alota às 8h.
Preferimos
seguir um guia local para fazer o trecho do oeste da trilha que é bem mais
complicado, porém mais bonito, que a estrada que vai direto à Laguna Colorada.
Passamos
por três lindas lagoas (Chullucani, Pastos Grandes e Khara) onde vimos cores
que não existiam na nossa palheta ainda, como tons de azul, verde, branco e
vermelho. Esses desertos são uma maravilha para descobrir cores novas! Cada
laguna é única mas de uma coisa você pode ter certeza: nessa época do ano
(fevereiro) tem muitos flamingos posando para fotos.
Nossa
última atração com o grupo foi a Árvore de Pedra, uma formação rochosa
esquisita perto do Desierto de Siloli. Daí prá frente, continuamos sozinhos
pois volta-se para a estrada principal e fica bem mais dificil se perder.
Árvore de Pedra |
Chegamos ao
Parque Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa e pagamos a cara taxa de entrada
(Bs150 ) para quatro dias de permanência, podendo realizar free campings mas
sem nenhuma estrutura básica de apoio como banheiros ou água. É você e a
natureza!
Visitamos
um mirante para a Laguna Colorada logo a esquerda da entrada e já sentimos o
vento implacável dessa região. Mesmo com ventania, conseguimos fazer o almoço
do lado de fora do carro mas pouco apreciamos do mirante.
Com a
barriga cheia, continuamos nosso passeio para o parque propriamente dito e
depois de visitar um canyon, decidimos passar a noite em frente a Laguna
Colorada mesmo. Dentro do carro, não sentimos tanto o vento e ficar com a
varanda virada para essa lagoa é estar um pouquinho no paraíso.
Varanda móvel, nunca enjoa |
A Laguna
Colorada tem esse nome por causa de sua cor vermelha e em alguns pedaços,
branca. O vermelho vem de uma alga e o branco pode ser uma mistura de três
coisas: gelo, sal e outro tipo de alga. Dizem que essa parte branca tem
diminuido consideravelmente através dos anos.
Laguna Colorada |
No outro
dia pela manhã, passeamos pela borda da lagoa, habitat das três espécies de
flamingos: o chileno, o andino e o James. Ficamos algumas horas observando os
flamingos que não se cansavam de posar para fotos e o resultado foi que temos
aproximadamente 200 boas fotos de flamingos.
Da
Colorada, fomos tomar um banho quente num poço termal ao lado da Laguna Salada
e decidimos passar a noite nesse local mesmo. Paramos mais cedo nesse dia pois
por volta das 16 horas, começou a nevar o que dificulta os passeios. Dormimos
mais uma vez em meio ao silêncio absoluto só cortado pelo barulho do vento e
dos flamingos.
A noite é
fria mas o céu é um monte de estrelas. Pegamos mínima de - 3,6 graus e sabemos
que estavamos na estação quente do ano. Com altitude média de 4300 metros, frio
e neve estão sempre presentes. Vá com roupas quentes!
No dia
seguinte, visitamos os geiseres, inclusive o mais famoso que chama-se Sol da
Manhã. Passear pelos geiseres requer muito de outros órgãos do sentido:
escuta-se o barulho deles que pode ser de borbulhas de lama ou de algo parecido
com o chiado de uma panela de pressão; e o olfato claro, o cheiro de ovo podre
e enxofre é onipresente.
Gêiser |
Seguimos
para as lagunas Blanca e Verde, aos pés do vulcão Licancabur que faz fronteira
com o Chile passando no caminho pelo Deserto de Dali. Uma paisagem
deslumbrante!
Laguna Verde |
Foram
tantas paisagens bonitas nesses poucos dias que ficamos em êxtase e a Bolivia
nos cativou profundamente, mesmo com todo o problema que tivemos para comprar
combustível como contaremos no próximo post.
Dicas para
overlanders:
Quando
resolvemos fazer esse caminho, tínhamos muitas dúvidas pois na internet as
informações são poucas. Portanto, se você quer fazer esse trecho sem contratar
excursão, recomendamos que você se informe em algumas agências de turismo e com
os guias 4x4 na própria cidade de Uyuni. Primeiro, é importante saber como
estão as condições das estradas. Novamente, o caminho foi restringido pela
chuva e acumulo de água nas estradas. Uma boa é observar os carros que saem
para fazer esse percurso e se o seu carro tem condições parecidas como altura e
pneu. Imprescindível é ter carro traçado. Sem isso, esquece!
Descobrimos
que os carros que fazem essas lagoas off road partem da Vila Alota as 8:00.
Como não conseguimos combinar de segui-los em Uyuni, resolvemos encontra-los
umas 7:50 e combinar diretamente com os motoristas. Para tanto, dormimos num
mirante da estrada pois essa cidade fica distante de Uyuni.
No total,
rodamos 632 kms entre Uyuni, lagunas off road, parque Eduardo Avaroa até chegar
em San Pedro do Atacama. Combustível existe em Uyuni e Atacama. Portanto,
calcule quanto você consome para ter uma autonomia de uns 800 kms pois
imprevistos podem acontecer. Nós saímos com o tanque cheio mais dois galões de
20 litros mas voltamos com um galão cheio.
Você estará
isolado. Não espere encontrar restaurantes e hospedagens super charmosos. O
melhor é levar comida e água para esse período com uma folguinha principalmente
de água potável. Na Bolívia tomamos sempre água mineral. A água das torneiras
de Uyuni eram amareladas, enchemos algumas garrafas para usar para lavar pratos
e mesmo assim ficamos ressabiados.
Venta e faz
muito frio. No verão, pegamos mínima de – 3,6C e neve no meio da tarde. No
inverno nos disseram que bate os -15C. Hora de usar as roupas mais quentinhas,
vestindo-se em camadas e com os acessórios de frio como cachecol, gorro e luva.
É interessante ter um aquecedor a gás para noite. Existem umas hospedagens no
Parque caso você não queira ficar em barracas mas não fomos nos informar sobre preços
pois o Jumbo é confortável, quentinho e limpo ainda mais comparado com certos
lugares.
A condição
das estradas é de péssima para horrorosa. O Jumbo sentiu e precisamos trocar
três coisas: o filtro de combustível, o rolamento do cardan e um dos pneus que
formou uma bolha gigantesca.
Que bolha perigosa |
Fronteira
Bolívia/Chile: Paso Cajón
Essa foi
uma das fronteiras mais esquisitas por onde passamos. Para cancelar a
importação temporária do carro, precisa passar na aduana que se localiza a uns 90
kms da imigração. Fomos duas vezes até a aduana pois o primeiro dia era terça
feira de carnaval e segundo o segurança estavam todos borrachos (bêbados). Ainda bem que estávamos sem pressa e tínhamos comida
e combustível para ficar indo e vindo.
Voltamos no
dia seguinte e o procedimento foi tão tosco que não sei até que ponto é
necessário cancelar esse documento. Apenas entregamos o papel e só após muita
insistência nos deram uma cópia carimbada que não foi pedida na imigração.
A aduana
fica a S 22*26.447’ W 67*48,358’, mais ou menos próximo ao gêiser do Sol da
Manhã, a 5.000 metros de altitude. Deve ser uma das fronteiras de maior
altitude em todo o mundo!
Não se deixe enganar pelos bracinhos de fora. A 5000 m estava frio. |
Dai
seguimos para a imigração dar baixa no passaporte. O funcionário nos pediu Bs 15
por pessoa. Quando pedimos o recibo, ele carimbou o passaporte e deixou para
pedir a propina dele para outro que não
saiba que não existem taxas a serem pagas na saída da Bolívia.
Mais
estranho ainda, a imigração e aduana do Chile fica super longe, na cidade de
San Pedro do Atacama, a 45 quilômetros da Bolívia.
Para
imigração, preenchemos a tarjeta migratória e deram entrada no passaporte. Para
o carro, apresentamos o documento original do carro, CNH e carimbo de entrada
no país. Eles emitem um documento de importação temporária sem custos.
Nessa e em
todas as fronteiras chilenas, existe uma fiscalização sanitária, ele procuram
frutas, vegetais e derivados do leite principalmente. E confiscam tudo que está
proibido entrar no Chile.
Essa
fronteira demorou 1:30 só no Chile pois demos o azar de chegar após dois ônibus
de passageiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será publicado após aprovação.