Tanto a fronteira
Bolivia/Chile quanto a Chile/Argentina(Salto Jama) são peculiares. A imigração
e aduana de um pais para o outro ficam distantes umas das outras. Demos a saída
em San Pedro do Atacama (Chile), dessa vez tudo foi bem rápido pois chegamos
minutos antes dos ônibus de passageiros. A saída foi bem tranquila, apenas
demos baixa nos passaportes e cancelamos o seguro obrigatório.
A imigração e aduana
Argentinas ficam a 160 km de San Pedro. A estrada é linda e passa pela Reserva
dos Flamingos e algumas lagoas. A entrada foi muito tranquila. Entramos com o
passaporte e para o carro, nenhum papel foi feito graças ao acordo do Mercosul
que aceita a documentação do carro do Brasil na Argentina sem nenhuma
burocracia.
O único senão da
Argentina é o seguro carta-verde, obrigatório. Apesar de sua obrigatoriedade,
nessa fronteira não existe uma oficina para fazer tal seguro. Por isso, no
Chile, tivemos que ir até a cidade de Calama somente para fazer a carta-verde e
ainda demos sorte de encontrar uma alma caridosa que não complicou nossa vida e
fez o seguro bem rapidinho. Em tempo: o carta-verde não é solicitado na
entrada, apenas em paradas policias na estrada.
Passo Jama |
Salimas Grandes |
A estrada do Jama até
Tilcara é bem bonita. Passamos por um salar impressionante no caminho,
conhecido como Salinas Grande. Não tem o impacto de Uyuni mas é acessível. Fica
na beira da estrada.
Tilcara, nossa
primeira cidade argentina, é uma cidade que fica na região da Quebrada de
Humahuaca. Essa região possui uma geografia particular, com montanhas
avermelhadas que lembram algumas paisagens do deserto dos Estados Unidos.
Tilcara é bem pequena e tranquila, uma boa parada para quem não quer esticar
muito a viagem até Salta ou Jujuy.
De Tilcara fomos para
Salta principalmente porque precisávamos fazer coisas de cidade grande como
trocar óleo e fazer câmbio. Fomos direto ao Camping Municipal Carlos Xamena
onde ficamos por três noites. O camping era mais ou menos. Na verdade, a
Argentina é lotada de campings mas a maioria é muito ruim. As instalações não
são bem cuidadas, muitos não têm banho quente, assento na privada, tem muito
lixo espalhado e uma frequência muito barulhenta. Mas são baratos e muitos. O curioso desse camping é que tem a maior
piscina que já vimos na vida. Gigante, maior que dois campos de futebol! Estava
vazia na época que fomos. E nessas, o camping ficou conhecido entre nós como o
camping da piscina.
Piscina gigante |
Saudades de uma ferramenta |
Justamente no dia que
havíamos programado fazer todas as coisas comerciais que precisávamos, era
20/02, dia da Batalha de Salta, feriado municipal extremamente comemorado e,
obviamente, com todo o comércio fechado. Vimos uma pequena parte do desfile com
cavalos e cavaleiros vestidos de roupas típicas. E nossa estadia nessa cidade
que era passagem teve que ser estendida.
Todos preparados para a famosa representação |
Agora, surpresa das
surpresas, fomos ao ótimo Museu de Arqueologia de Alta Montanha (P$ 40). O
museu é pequeno mas contem ótima coleção inca, inclusive múmias de crianças
encontradas “dormindo”no topo do vulcão Llullaillaco (6.739 m). O estado de
conservação das múmias é impressionante, estão ótimas graças ao frio.
Infelizmente não temos fotos pois é proibido fotografar dentro do museu mas
temos informações que são interessantes de serem compartilhadas.
La Doncella/foto de divulgação |
O capocha era um ritual inca onde crianças e mulheres jovens eram
oferecidas aos deuses. Esses rituais se realizavam com certa regularidade. As
crianças mais lindas de cada povoado inca eram levadas a Cusco onde eram
santificados pelo imperador como filhos do deus Sol. Eram casados entre si para
fortalecer a aliança entre os povos e desfilavam pelas ruas de Cusco em grande
festa. Ao regressar as suas aldeias, eram recebidos com celebrações que duravam
dias e depois, conduzidos até uma montanha. Ao chegar ao cume, as crianças eram
sedadas com uma bebida alcoólica a base de milho (chicha) e depositadas
inconscientes num pequeno refugio de pedra, junto com várias oferendas, na verdade as mais
belas oferendas que as aldeias podiam produzir, inclusive em ouro e em tapeçaria e cercadas de
brinquedos como bonequinhas (no caso da menina) e alpacas (no caso do menino).
A partir desse momento, todos consideravam a montanha sagrada, já que do topo
dela as crianças santificadas estavam guardando e protegendo seu povo. Para os
incas, as crianças estão dormindo. Nós que não somos incas sabemos que essas
crianças morreram de hipotermia ou coma alcoólico, perde muito a poesia
principalmente porque estamos tratando de pessoas. O mais curioso é que vira e
mexe ouvimos que “essa montanha é sagrada”ou “vale sagrado”sem saber realmente
qual o significado desse “sagrado”. E no caso das montanhas, foi uma verdadeira
surpresa descobrir isso. Já descobriram mais de 20 múmias no topo de várias
montanhas incas, uma delas no Aconcágua.
Após Salta, fomo s
conhecer a região de Cafayate, conhecida pela produção excelente de vinho
branco com uva torrontés. Visitamos duas vinícolas: a Bodega Nanni e a Finca
Las Nubes. Enquanto na Nanni fizemos uma visita guiada, nas Las Nubes a
paisagem foi encantadora! Vale visitar as duas! Mas não estávamos com sorte com
relação a eventos e em Cafayate estava rolando o maior evento da região
justamente no dia que aparecemos ali: um Festival de Música. Tudo absurdamente
lotado! Fugimos dali rapidinho e seguimos para Londres, onde encontramos um
camping péssimo para passar a noite.
Finca Las Nubes |
Cansados de tanto
campings ruins, resolvemos ficar na cidade de Chilecito num hotel barato com
wifi, tomar banho quente e relaxar um pouco. Mas antes, aproveitamos para
passear pela cidade de Tafi del Vale, um charme! Pena que estava rolando uma
feira qualquer que nos afugentou novamente...
Cancha de bochas |
Nosso objetivo nessa
região era visitar os Parques Nacionais com presença de dinossauros- o
Talampaya e o Ischigualasto. Visitamos apenas o segundo num roteiro de 40 km
que durou três horas. O grupo é acompanhado por guia que vai dando detalhes de
como era a geografia e sobre os dinossauros que ali encontraram. Passamos pelos
principais pontos do parque: El Gusano, Valle Pintado, Cancha de Bochas
(interessantíssimo), El Submarino, El Hongo e as Barrancas Coloradas que ficam
mais lindas no por do sol. Todos os fósseis de dinos foram encontrados no Valle
Pintado onde existe uma concentração grande de bentonita, um mineral conhecido
pela sua impermeabilidade que permitiu a conservação dos fósseis. Nesse local,
foi encontrado o fóssil de dinossauro mais antigo do mundo.
Marcas de quando tudo era mar |
Barrancas Coloradas |
O Parque ainda conta
com um pequeno museu e o melhor, pagando uma taxa simbólica, pode-se acampar
tendo banheiros quentes, pias, energia e até wifi incluída no pacote.
Museu |
Depois de pular de
cidade em cidade, decidimos sossegar o facho em Mina Clavero, uma cidade conhecida
por balneários de rio. Descansamos mas descobrimos um problema bem grande: uma
bolha no pneu dianteiro. O pneu precisava ser trocado, não em Mina que não
tinha nosso pneu. Procuramos numa cidade próxima, San Luis e como não encontramos
o que precisávamos, fomos para Mendoza onde chegamos, adivinha? bem no dia da
Vendímia, a maior festa do vinho na Argentina. Mas dessa não fugimos. Por quê?
Ora, esse é assunto para um próximo post!
Ruta 40, esse é só o começo |
Mas e a tal ruta 40 do
título do post? Essa é uma estrada famosa aqui na Argentina. Liga o norte ao
sul do país, até Rio Gallegos, quase no estreito de Magalhães. Nós a pegamos
praticamente em toda nossa viagem pela Argentina rumo ao sul, começando em
Cafayate. Uma estrada cheia de lugares interessantes e com muitos, muitos
trechos de rípio. A parte norte foi apenas o primeiro trecho dessa longa
estrada que leva ao nosso objetivo sul da viagem: Ushuaia